Planeamento, liderança e profissionais evitaram caos no São João

O planeamento, a liderança e os executores evitaram o caos no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), na opinião da infecciologista Margarida Tavares, em vésperas de se completar um ano sobre o primeiro caso de covid-19 diagnosticado em Portugal.

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Lusa
28/02/2021 09:26 ‧ 28/02/2021 por Lusa

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Covid-19

"A principal razão pela qual nunca chegámos ao quarto [e último nível de atuação do Plano de Contingência] foram as pessoas, os executores (...). Temos noção de que em alguns momentos tivemos maior sobrecarga e concentração, mas nunca entrámos em caos, rutura ou incapacidade de resposta", disse à agência Lusa a coordenadora do internamento covid-19 do Hospital de São João, no Porto.

Neste hospital o primeiro caso de covid-19 foi diagnosticado a 02 de março do ano passado, depois de um longo mês de fevereiro em que o centro hospitalar tratou 68 casos suspeitos que, no entanto, nunca foram confirmados (o Hospital de Santo António, na mesma cidade, registou o primeiro doente de covid-19 no país, horas antes, no mesmo dia).

"Planeamento e liderança forte com capacidade de decisão informada e imediata, liderança capaz de reconhecer que, se não é aquela a melhor alternativa, se deve voltar atrás e mudar de rumo", descreveu.

Desde março de 2020, o CHUSJ registou a passagem 10.031 doentes covid-19, sendo que uma parte foi tratada em ambulatório e mais de 2.000 necessitaram de internamento.

De acordo com dados de quinta-feira, este hospital do Porto atualmente regista menos de meia centena de doentes internados com o novo coronavírus, dos quais quase três terços estão em unidades de cuidados intensivos.

O Plano de Contingência do CHUSJ tem quatro níveis. O terceiro foi ativado uma única vez: a 13 de outubro, período associado ao pós-férias e que coincidiu com o início do inverno.

À Lusa, Margarida Tavares -- a quem coube desenhar esse plano, juntando os contributos de todo o hospital, como procurou frisar -- fez a cronologia de um ano de exceção que exigiu um planeamento "flexível".

"O nosso plano é dinâmico e flexível. O maior erro era desenharmos uma estratégia de atuação e não sermos capazes de, perante uma situação que é tão dinâmica como esta, o adaptar. A gestão foi a razão do equilíbrio", resumiu.

Foi a 31 de dezembro de 2019 que Margarida Tavares leu, pela primeira vez, palavras que hoje surgem associadas à covid-19 através de um alerta da Organização Mundial de Saúde que falava "sobre o surgimento de um conjunto de casos de pneumonia grave sem etiologia ainda esclarecida que estava a ocorrer em Wuhan, na China", recordou.

"Passados pouquíssimos dias já estávamos a discutir o plano. No meu serviço fazemos uma reunião mensal [que se chama Boletim Epidemiológico] em que um dos médicos faz um apanhado sobre todas as ocorrências de doenças infecciosas que estão a existir no mundo. Percebemos o imediato da situação", contou.

Ao primeiro pico da doença registado em março e abril, uma "onda inicial com muitos internamentos", seguiu-se algo "idêntico" em outubro e novembro e uma terceira vaga "um bocadinho menor" na segunda semana de janeiro.

"O número máximo de doentes diagnosticados foi idêntico entre março e novembro, mas tivemos menos doentes internados na segunda vaga porque conseguimos fazer uma gestão melhor dos tempos de internamento", descreveu.

Questionada sobre se para isso contribuiu o maior conhecimento sobre a doença, a especialista dá um exemplo simples para confirmar a tese da experiência adquirida e soma outros elementos.

"Antes andava uma pessoa a limpar o chão de cada vez que um doente passava, agora não. Prescindimos de muitas coisas que são consumidoras de tempo e recursos. Simplificamos, mantendo a segurança. A grande diferença é que no início não sabíamos como este vírus se transmitia (...). Da primeira onda para a segunda aumentamos muito o fluxo e a eficácia do internamento. Não deixávamos uma alta para o dia seguinte", descreveu.

E, ainda no campo da capacidade de internamento, também contribuiu "para o balão de oxigénio que permitiu, muitas vezes, não ter de abrir uma ala nova", a rede fora do hospital, apontou a médica.

A infecciologista elogiou a "ajuda" do Hospital Militar ou a "coordenação" da Administração Regional de Saúde do Norte na transferência de pessoas sem retaguarda familiar, mas que já não necessitam de permanecer no hospital, para o Seminário do Bom Pastor, em Valongo, ou para o antigo hospital de Paços de Ferreira.

Os dois primeiros casos de pessoas infetadas em Portugal com o novo coronavírus foram anunciados em 02 de março de 2020, enquanto a primeira morte foi comunicada ao país em 16 de março. No dia 19, entrou em vigor o primeiro período de estado de emergência de 15 dias, que previa o confinamento obrigatório e restrições à circulação na via pública em Portugal continental.

Leia Também: Menos 1,3 milhões de consultas nos hospitais e menos 151 mil cirurgias

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