De acordo com o documento, a que a agência Lusa teve acesso, a cobertura vacinal das grávidas mais do que duplicou (53,6%, relativamente aos 23,5% da época gripal anterior), num ano em que a vacina da gripe passou a ser gratuita para este grupo populacional.
Nos profissionais de saúde em contacto direto com doentes passou de 58,9% para 62,9% e nas pessoas com doenças crónicas de 72% para 74,4%, referem os dados.
"Compensa sempre a vacinação gratuita. A vacinação não pode ser vista como um custo, tem que ser vista como um investimento e a inclusão da vacinação gratuita nas grávidas teve um impacto significativo em duplicar a taxa de cobertura vacinal neste grupo tão importante e um dos prioritários desde o início por parte da Organização Mundial de Saúde", considerou o pneumologista Filipe Froes.
O especialista, que é coordenador da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), sublinhou que a gratuitidade da vacina da gripe para as grávidas "era um desígnio da comissão de acompanhamento da vacinação da gripe".
"Curiosamente, a Organização Mundial de Saúde, dentro dos grupos prioritários de vacinação, a quem recomendava mais vivamente a vacinação era às grávidas. No fundo, com uma vacina nós protegemos duas pessoas: a mãe e o bebé até os primeiros seis meses", acrescentou.
De acordo com os dados finais do Vacinómetro 2020/2021, Portugal atingiu a meta de taxa de vacinação proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para as pessoas com 65 nos ou mais, registando uma cobertura de 74,6%.
Relativamente à anterior época gripal, houve uma redução de 0,4 pontos percentuais nas pessoas com 65 ou mais anos e de 2,3 pontos percentuais na população com idades compreendidas entre os 60 e os 64 anos (40,9%).
Em declarações à Lusa, Filipe Froes disse que na época gripal 2020/21 houve "uma grande vontade de vacinação" e considerou que, apesar de esta vontade ter sido acompanhada de um esforço de aumentar a aquisição de vacinas para Portugal, a capacidade de adquirir vacinas ficou aquém da procura.
"Isso deve servir de estímulo para a aquisição de mais vacinas", disse o especialista, acrescentando: "Desde que devidamente contextualizadas, as pessoas aderem à vacinação e, sobretudo, percebem que a melhor maneira de lidar com as doenças é preveni-las".
Numa entrevista à agência Lusa no início deste mês, a ministra da Saúde disse que o Governo pretendia comprar mais vacinas para a próxima época gripal.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) conseguiu ter em 2020 um pouco mais de dois milhões de doses de vacinas, a somar às cerca de 500 mil no setor privado.
Nos anos anteriores, eram compradas cerca de 1,5 milhões doses de vacinas.
Os dados do Vacinómetro 2020/21 indicam ainda que nos dois grupos de doentes crónicos analisados, 83,5% das pessoas com diabetes foram vacinadas, 3,2% dos quais pela primeira vez, assim como receberam a vacina 64,6% das pessoas com doenças cardiovasculares, 3,1% das quais pela primeira vez.
Nas grávidas, o relatório refere que a vacinação foi feita maioritariamente por indicação do médico (84,9%), sendo que as que não se vacinaram foi principalmente porque são saudáveis e o médico não indicou.
Do total de pessoas vacinadas estudadas no Vacinómetro, os motivos que levaram à vacinação foram a recomendação do médico (64,9%, um aumento de 3,1 pontos percentuais face à época passada).
Houve ainda quem se vacinasse no contexto de uma iniciativa laboral (23,2%, menos 1,4 pontos percentuais), por iniciativa própria (9,6%, menos 2,3 pontos percentuais) e por recomendação do farmacêutico (1,2%).
No total, os dados estimam que terão sido vacinados nesta época gripal mais de 1,5 milhões de pessoas com 65 ou nãos anos e 264.657 pessoas entre os 60 e os 64 anos.
O Vacinómetro é uma Iniciativa promovida pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), com o apoio da Sanofi Pasteur.
Lançado em 2009, permite monitorizar em tempo real a taxa de cobertura da vacinação contra a gripe em grupos prioritários recomendados pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
O processo envolveu uma amostra de 2.861 pessoas (1.853 homens e 1.008 mulheres) e os questionários foram feitos entre os dias 24 de fevereiro e 01 de março de 2021.
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