Num momento em que "estamos próximos" de atingir os 120 dias de vacinação em Portugal, Marta Temido começou por explicar, em conferência de imprensa, esta quarta-feira, que, até ao momento, chegaram ao nosso país "cerca de 2,9 milhões de doses de vacinas". A estas, acrescem cerca de 31.200 doses da Janssen.
Foram já administradas "cerca de 2,7 milhões de doses", com dois milhões de pessoas a serem vacinadas com pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19: "Cerca de 20% da população portuguesa possui já algum grau de imunidade". Já 690 mil pessoas receberam as duas inoculações - "cerca de 7% da população".
"Estimamos que, até ao final de maio, ou mesmo até à terceira semana de maio, todas as pessoas com mais de 60 anos estejam vacinadas com pelo menos uma dose", afirmou a ministra, lembrando que se trata do "grupo mais atingido pela letalidade" da Covid-19.
Passada uma primeira fase, "encerrada com êxito", entramos agora numa fase da "abundância", explicou em seguida Graça Freitas. "Vacinação rápida por faixas etárias decrescentes. Vamos iniciar em força a faixa etária dos 70 aos 79 anos".
"Criámos duas estratégias simultâneas de vacinação: uma intensa, muito grande, dirigida para a faixa etária e outra que permite que grupos de pessoas doentes sejam vacinadas com prioridade", explicou a diretora-geral da Saúde. Graça Freitas adiantou que nesta fase da vacinação serão incluídas, nos grupos prioritários, as pessoas com doença oncológica ativa (a fazer quimioterapia ou radioterapia), pessoas com situação de transplantação, pessoas com imunossupressão, doenças neurológicas, doença mental (esquizofrenia), obesidade (acima dos 35% de massa corporal) e diabéticos.
"A vacinação terá dois ramos: Um por faixa etária, intensivo e fácil de vacinar, e outro que não deixa para trás pessoas com doenças graves, independentemente da idade", disse a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, no balanço sobre o Plano de Vacinação contra a COVID-19. #DGS
— DGS (@DGSaude) April 21, 2021
Passando a palavra a Henrique Gouveia e Melo, o coordenador da task-force recordou que na primeira fase havia pouca disponibilização de vacinas, mas que nesta segunda fase poderemos "acelerar o plano de vacinação". "Estamos a preparar-nos para o desafio de vacinarmos a população portuguesa a um ritmo acelerado, que será dentro de muito pouco tempo um ritmo superior ou à volta de 100 mil vacinas por dia."
Vacinar 100 mil pessoas por dia durante sete dias por semana é uma "tarefa massiva e complexa", mas tudo indica que "vamos ter sucesso" havendo a disponibilidade de vacinas, destacou Gouveia e Melo. Ainda sobre a vacinação dos maiores de 60 anos, o responsável assinalou que, "ao darmos proteção a essa faixa etária, estamos em condição de garantir uma elevada proteção e, de alguma forma, o retomar da nossa economia em condições mais normais".
Em seguida, Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, destacou que a vacina da AstraZeneca "está a ser avaliada com mais detalhe". "Neste momento, em relação a qualquer das quatro vacinas que estão avaliadas e aprovadas na UE existem condições para a sua utilização, sem prejuízo de nós entendermos que o nosso plano de vacinação possa gerir essa utilização da forma mais adequada", indicou também.
O presidente da Autoridade do Medicamento deu ainda nota de que "tem estado a haver alguma aceleração da execução de dois contratos - Pfizer e Moderna".
Em direto: Atualização de informação relativa ao Plano de Vacinação contra a COVID-19 https://t.co/BGrFOU3ToC
— República Portuguesa (@govpt) April 21, 2021
Vacinação com J&J prossegue mas "pode haver restrições"
Relativamente à vacina da Janssen - subsidiária europeia da Johnson & Johnson, Marta Temido disse que o parecer da EMA "é muito claro" e refere que "nos oito casos analisados em que ocorreram coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas nos Estados Unidos foi encontrada uma possível relação causal com a toma da vacina" e que a Autoridade Europeia do Medicamento "insiste na mensagem" de que a vacina "é segura e eficaz".
A ministra ressalvou que, consequentemente, "todos os países irão seguir esta recomendação da EMA e prosseguir os seus processos de vacinação com a vacina da Johnson & Johnson". A questão que poderá existir é "se, até haver mais informação, poderá haver uma restrição etária, e essa avaliação é algo que procuraremos que tenha a maior uniformidade possível a nível europeu e que, neste momento, está a ser realizada pelas agências nacionais do medicamento". Haverá mais esclarecimentos no final da semana.
Posteriormente, Rui Ivo confirmou que "a vacina da Janssen está em condições de ser usada no âmbito do plano de vacinação, no âmbito em que ele está a decorrer".
Vacinação dos recuperados da Covid-19
Graça Freitas pronunciou-se sobre a imunidade dos recuperados da Covid-19, que irão integrar também a segunda fase da vacinação. "A quase totalidade dos recuperados tem imunidade contra a doença. Quando começámos o plano, com escassez de vacinas, não fazia sentido administrar [vacinas] a pessoas já com imunidade - que foi providenciada pela infeção natural".
A diretora-geral apontou que teve de ser feita uma opção: "priorizar as vacinas que tínhamos para a população que não tinha imunidade nenhuma". Agora, a estratégia é vacinar os maiores de 60 anos e, depois, os recuperados "que tenham tido doença há mais de seis meses, porque neste tempo há evidência muito forte de que a imunidade é muito boa, será até melhor que a da própria vacina".
Estes apenas receberão uma dose da vacina contra a Covid-19.
Portal para auto-agendamento na "próxima semana"
Marta Temido anunciou hoje que o portal para o auto-agendamento da vacinação contra a Covid-19 estará a funcionar na próxima semana. "Pensávamos que [o portal] pudesse estar já a funcionar, mas houve necessidade de readaptar a agenda de trabalho em função do que foi a alocação de recurso ao processo de vacinação em massa de docentes e não docentes", afirmou a ministra.
A governante disse ainda que as funcionalidades desta ferramenta serão reforçadas, com a possibilidade de optar pela vacinação em local diferente do da residência.
Recorde-se que as autoridades de saúde portuguesas anunciaram hoje a atualização do plano de vacinação, um dia depois de a Agência Europeia do Medicamento ter concluído que a vacina da Janssen anti-Covid-19 tem uma "possível ligação" a casos muito raros de coágulos sanguíneos, mas ao mesmo tempo ter insistido nos benefícios do fármaco contra a doença.
Há uma semana Portugal recebeu as primeiras 31.200 doses da vacina da Janssen, que ficaram armazenadas a aguardar decisão do regulador europeu.
A Johnson & Johnson anunciou na terça-feira que vai retomar o envio de vacinas para a União Europeia, Noruega e Islândia, no seguimento de recomendação positiva da Agência Europeia do Medicamento.
[Notícia atualizada às 12h03]
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