"Esta situação em Espanha é lamentável porque, para o lado português, vai atrasar uma semana o impacto e efeito económico que é expectável e desejável para a nossa economia com a reabertura das fronteiras", destacou à agência Lusa Nuno Vaz, autarca de Chaves que faz fronteira com Verín, na Galiza, em Espanha.
O vice-presidente da Junta da Galiza disse na segunda-feira que, apesar da reabertura das fronteiras terrestres em Portugal, aquela região autónoma espanhola permanece em confinamento e que as deslocações têm "de ser justificadas".
"É certo que o encerramento de fronteiras não é efetivo desde sábado, mas também é certo que, à data de hoje [segunda-feira], a Galiza, tal como quase todas as regiões autónomas, continua em confinamento. A entrada e saída da Galiza tem de ser justificada e isso inclui a fronteira com Portugal", afirmou Alfonso Rueda, numa gravação áudio a que a Lusa teve acesso.
Na quinta-feira, no final da reunião do Conselho de Ministros sobre a última fase de confinamento, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou a reabertura das fronteiras terrestres com Espanha.
Nuno Vaz salientou que desde a reabertura das fronteiras terrestres, no sábado, não têm existido "grandes contactos" por parte dos cidadãos espanhóis e, em particular, dos galegos dos concelhos vizinhos, o que "impede que a economia tenha a dinamização esperada" em setores como o comércio, hotelaria ou restauração.
Para o presidente da Câmara de Chaves, este "parece mais um conflito entre o Governo central [de Espanha] e a Junta da Galiza sem que haja uma harmonização de posições".
"Há um conflito motivado por questões político partidárias. Porventura a disputa política que está a acontecer [em Espanha] pode contaminar esta questão", alertou o socialista.
O autarca estranha também esta posição da Junta da Galiza, por entender que a reabertura de fronteiras é "uma decisão de âmbito nacional e que os concelhos ou regiões têm que se conformar com elas".
Nuno Vaz disse esperar que "rapidamente a decisão seja revertida para que exista uma situação de reciprocidade e igualdade desejável na relação entre os países".
Acrescentou que no fim de semana se deslocou à localidade raiana de Feces de Abaixo, que faz fronteira com Vila Verde da Raia, no concelho de Chaves, sem que tivesse sido controlado, apesar de não ter a certeza de que isso esteja a acontecer em permanência.
"Espero que haja bom senso nesta matéria em nome do que é o bom funcionamento entre os países e desejo das respetivas comunidades transfronteiriças, que estão naturalmente desejosas de visitar os seus vizinhos do outro lado da fronteira", concluiu.
Já o presidente da Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT), Vítor Pimentel, lamentou à Lusa "a trapalhada que não ajuda em nada o estabelecimento da confiança entre os consumidores".
"A articulação entre os governos regionais espanhóis e o governo central tem de ser cuidada sob pena de instalar o receio nos cidadãos que querem atravessar a fronteira para determinados fins. O que nos parece é que a antecipação da abertura das fronteiras, que se saúda, entre Portugal e Espanha, não foi devidamente articulada com o governo regional da Galiza", vincou.
O responsável pela associação comercial do Alto Tâmega assinalou ainda que "não há qualquer problema na entrada dos vizinhos espanhóis" em Portugal, o que "é de extrema importância para a economia local desde que cumpridas as regras de saúde pública".
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.203.937 mortos no mundo, resultantes de mais de 152,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.977 pessoas dos 837.457 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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