"Não conseguimos ver uma razão e uma lógica", referiu Mónica McGill, presidente da rede Casas Brancas, entidade com cerca de 20 anos de existência que agrega perto de 60 associados no litoral alentejano e costa vicentina ligados à restauração, atividades e alojamentos turísticos.
Ainda a apurar "todos os prejuízos" relacionados com a cerca sanitária, a responsável, que falava em nome dos associados afetados por esta medida e de empresários ligados de forma direta e indireta ao setor do turismo, traçou um cenário de incerteza devido à imagem que Odemira "está a passar" para o resto do país.
"Há associados que perderam entre 15 e 20 mil euros numa semana, porque tinham reservas para esse período. Há a questão de reservas futuras, cujos depósitos estão a ser devolvidos, porque as pessoas ficam com receio e não têm noção do que se passa no território", exemplificou.
No seu entender, os casos estão "devidamente identificados" e uma boa circunscrição permitiria a abertura de todos os setores da economia local: "Todos os setores podiam estar a trabalhar neste momento, mesmo naqueles onde existem casos. Nem todas as empresas têm de ser afetadas por um caso de uma empresa vizinha ou que faça parte do concelho, o que é incompreensível".
De acordo com Mónica McGill, o concelho de Odemira contabiliza "940 empresas ligadas ao setor do turismo, entre restauração, alojamentos locais, turismos rurais, empreendimentos turísticos, parques de campismo, restauração e similares", que trabalham em rede.
"As pessoas que se dirigem ao nosso concelho para passar um fim de semana ou passar férias gostam de circular e sabem que é um concelho diverso que permite ter muitas opções para explorar. Isto afeta todos, é inegável", frisou.
Em comunicado, a associação Casas Brancas pede "o levantamento imediato da cerca sanitária nas freguesias de Longueira-Almograve e de São Teotónio" e que seja decretada "a passagem destas duas freguesias ao nível de desconfinamento já aplicado às restantes 11 freguesias" do concelho de Odemira, no litoral alentejano.
"A vacinação urgente de toda a população do concelho, incluindo a população migrante", o reforço das medidas de fiscalização e das condições de insalubridade e sobrelotação das habitações, e o isolamento "caso a caso" sempre que são detetados casos de infeção de covid-19, "da mesma forma que se faz nas escolas", são outras das exigências da associação.
As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, estão com cerca sanitária, desde 30 de abril, por causa da elevada incidência de covid-19, sobretudo devido aos casos entre trabalhadores do setor agrícola, muitos deles imigrantes.
Quando o Conselho de Ministros decretou a cerca sanitária, o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou que "alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com hipersobrelotação das habitações", e relatou situações de "risco enorme para a saúde pública, além de uma violação gritante dos direitos humanos".
Na semana passada, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu manter a cerca sanitária, mas com "condições específicas de acesso ao trabalho".
A entrada ou saída das freguesias para o "exercício de atividades profissionais" e para o "apoio a idosos, incapacitados ou dependentes e por razões de saúde ou por razões humanitárias" depende da apresentação de comprovativo de teste PCR negativo realizado nas 72 horas anteriores ou teste rápido antigénio negativo realizado nas 24 horas anteriores.
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