Zero contra transporte rodoviário e edifícios no mercado de carbono

A associação ambientalista Zero defendeu hoje que Portugal deve manifestar-se contra a inclusão do transporte rodoviário e dos edifícios no mercado de carbono da União Europeia, sob pena de duplicarem os custos do aquecimento doméstico.

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Lusa
25/05/2021 18:28 ‧ 25/05/2021 por Lusa

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"Em 2030, as famílias de menores rendimentos na União Europeia (UE) podem ser oneradas com aumentos de 50 cêntimos por litro no preço do gasóleo e uma duplicação da fatura de aquecimento doméstico, isto caso a UE faça depender os cortes de emissões no transporte rodoviário e nos edifícios apenas do mercado de carbono", afirmou a associação em comunicado, citando resultados de um estudo publicado hoje pela Cambridge Econometrics.

De acordo com a mesma fonte, o preço do carbono poderá atingir 180 euros por tonelada até 2030, "se for essa a decisão da União Europeia".

"A Zero considera que os líderes da UE, que estão hoje a discutir como atingir as metas climáticas para 2030, não devem fazer do mercado de carbono nos transportes rodoviários uma peça central".

Em vez disso, advoga a associação, a União Europeia "deve continuar a confiar nas metas climáticas nacionais", a estabelecer padrões rigorosos para as emissões de dióxido de carbono dos veículos, mantendo um preço de carbono que não seja excessivamente elevado e "compensando generosamente as famílias de rendimentos mais baixos".

Em França, exemplificou, os preços dos combustíveis rodoviários aumentariam 35% em 2030 se o mercado de carbono da UE fosse o principal método usado para atingir as metas de redução de emissões.

O mesmo estudo indica que os custos de aquecimento a gás quase duplicariam (92%).

"Na Alemanha, onde os preços do gás são hoje relativamente baixos, o seu preço subiria 135% e o dos combustíveis rodoviários 32%. Na Polónia, os condutores pagariam 31% mais para abastecer até ao final da década, enquanto o aquecimento a gás custaria 70% mais", lê-se no documento divulgado pela Zero.

A associação entende que a subida de preços dos combustíveis fósseis faz parte da transição energética, mas não deve ser exagerada, nomeadamente quando os objetivos de descarbonização "podem ser atingidos de outras formas", sob pena de "fazer aumentar a desigualdade social".

Francisco Ferreira, presidente da Zero, citado no comunicado, reclamou uma maior ambição nas metas climáticas nacionais, o que "obrigaria os governos a eliminar os carros de empresa a combustível fóssil, investir em modos limpos de mobilidade, como o ferroviário, e a tomar outras medidas".

"Seguindo esta via, a UE poderia fazer aumentar os rendimentos disponíveis das famílias e fazer a economia crescer 2%.", estimou.

Para a Zero, as receitas com um preço de carbono equilibrado devem ser investidas em tecnologias sem ou com baixas emissões de carbono -- em reabilitação de edifícios --, mas também deveriam ser "recicladas" de volta aos cidadãos através de descontos, por exemplo, nas contas de eletricidade.

O esforço mais significativo deverá provir de carros sem emissões, eletrificação rápida e construção de uma rede de carregamento de qualidade, segundo a Zero: "Isso pode ser alcançado pelo aumento das metas climáticas nacionais, limites estritos de poluição para carros e edifícios e um preço do carbono que envolva as pessoas neste mecanismo, sem exageros e redistribuindo entre elas os montantes cobrados".

Hoje, os líderes da União Europeia dirão à Comissão Europeia quais os métodos que devem ser usados para atingir a meta de redução de 55% nas emissões até 2030, frisou a associação, acrescentando que a 14 de julho, a Comissão apresentará uma proposta sobre o futuro das metas nacionais e do Regulamento de Partilha de Esforços.

Leia Também: Ligação entre crescimento económico e emissões "tem de ser quebrada"

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