"À medida que os fornecimentos escasseiam, a partilha de doses é uma solução urgente, crítica e de curto prazo para assegurar que os africanos com maior risco de covid-19 obtêm a tão necessária proteção", disse Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para África.
"África precisa de vacinas agora. Qualquer pausa nas nossas campanhas de vacinação levará à perda de vidas e à perda de esperança", acrescentou a responsável da OMS, na conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia no continente africano.
A organização recorda que uma dose única da vacina da AstraZeneca dá cerca de 70% de proteção durante pelo menos 12 semanas, enquanto a vacinação completa com um intervalo de 12 semanas dá 81% de proteção durante um período prolongado.
Por isso, defende a OMS, são necessários pelo menos 20 milhões de doses para conseguir vacinar com a segunda dose, num período entre oito e 12 semanas, todos os que receberam a primeira toma do imunizante.
Além destas, são necessárias mais 200 milhões de doses de qualquer vacina covid-19 aprovada pela OMS para que o continente possa vacinar 10% da sua população até setembro de 2021.
Até à data, foram administrados apenas 28 milhões de doses de diferentes vacinas nos países africanos, o que representa menos de duas doses por 100 pessoas.
Números que contrastam com os 1,5 mil milhões de doses de vacina dadas a nível mundial.
"É demasiado cedo para dizer se África está na iminência de uma terceira vaga. No entanto, sabemos que os casos estão a aumentar e o tempo está a passar, pelo que apelamos urgentemente aos países que vacinaram os seus grupos de alto risco para que acelerem a partilha de doses para proteger totalmente as pessoas mais vulneráveis", pediu Moeti.
O apelo da diretora da OMS para África reforça o pedido também feito pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na Assembleia Mundial da Saúde, no início da semana, para que todos os Estados-membros da organização apoiem os esforços de vacinação nos países em desenvolvimento.
A França foi o primeiro país a partilhar vacinas contra a covid-19 do seu "stock", doando mais de 31.000 doses à Mauritânia, tendo outras 74.400 para entrega iminente, de um compromisso de partilha de meio milhão de doses com seis países africanos nas próximas semanas.
Portugal doou também 24 mil doses a Cabo Verde, no âmbito do seu compromisso de destinar 5% das vacinas adquiridas para os Países Africanos de Língua Portuguesa e Timor-Leste.
A União Europeia e os seus Estados-membros prometeram mais de 100 milhões de doses para países de baixos rendimentos até ao final de 2021.
Os Estados Unidos da América anunciaram que vão partilhar 80 milhões de doses e outros países de alto rendimento manifestaram interesse em partilhar vacinas.
Para a OMS, "a aceleração destas promessas é crucial", sendo a plataforma Covax, "uma ferramenta comprovada para uma entrega rápida".
Também os países africanos que não conseguem utilizar todas as suas vacinas estão a partilhá-las.
A OMS reafirma a necessidade de, a longo prazo, África aumentar a sua capacidade de fabrico de vacinas, admitindo, no entanto que "não há uma solução rápida" e que todo o processo "pode demorar anos".
"As renúncias à propriedade intelectual são um primeiro passo crucial, mas devem ser acompanhadas pela partilha de conhecimentos especializados e tecnologias essenciais", defende a organização.
Pelos menos 100 países membros da organização, incluindo os 54 africanos, patrocinam um projeto de resolução nesse sentido, liderado pela Etiópia, e que está a ser discutido na Assembleia Mundial da Saúde desta semana.
A resolução visa reforçar a produção local, promover transferências de tecnologia e inovação, e alcançar um acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio.
África registou 129.345 mortes e 4.788.216 casos de covid-19 desde o início da pandemia, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), mas especialistas alertam que esta poderá ser uma realidade subavaliada por causa da falta de fiabilidade dos dados em muitos países.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.500.321 mortos no mundo, resultantes de mais de 168,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.