"António Guterres é um líder político internacional, é o português que ocupou e ocupa o mais alto cargo internacional que um nosso compatriota alguma vez alcançou, é um defensor, todos os dias, da paz, da segurança, dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável", disse à agência Lusa Santos Silva.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português lembrou que a recandidatura foi apresentada por Portugal e realçou três aspetos em que Guterres se destacou no primeiro mandato, como defensor e promotor do multilateralismo e na ação climática, bem como nas propostas reformistas na própria ONU.
"Por todas essas razões estamos muito contentes com esta recomendação do Conselho de Segurança", sublinhou.
"A candidatura de António Guterres para um segundo mandato como secretário-geral da ONU foi apresentada por Portugal, que tem muita honra e muito orgulho em que o Conselho de Segurança tenha endossado a candidatura a um segundo mandato e tenha recomendado à Assembleia Geral a sua recondução", acrescentou Santos Silva.
Lembrando que essa é a "regra", o chefe da diplomacia portuguesa realçou que cabe à Assembleia Geral da ONU, mediante recomendação do Conselho de Segurança, eleger o secretário-geral.
Questionado pela Lusa sobre em que áreas considera que Guterres mais se destacou ao longo do primeiro mandato, Santos Silva realçou três dimensões, com a primeira a estar relacionada com a defesa e promoção do multilateralismo no mundo.
"Foi um defensor e promotor do multilateralismo em circunstâncias muito difíceis, relacionadas, designadamente, com a posição da administração [do Presidente Donald] Trump nos Estados Unidos, e também com as tensões geopolíticas que, infelizmente, marcam os dias de hoje", explicou.
Uma segunda dimensão, prosseguiu, é a ação que "foi e é absolutamente decisiva" em relação às alterações climáticas.
"António Guterres é o advogado número um no mundo da necessidade de combatermos as alterações climática, salvaguardarmos a biodiversidade e caminharmos para economias neutras em carbono. Tem explicado muito bem que isso é uma condição de sobrevivência da própria humanidade e do planeta em que vivemos" sustentou.
A dimensão reformista é o terceiro aspeto destacado por Santos Silva, que lembrou que Guterres "prometeu e envolveu-se num processo de reforma muito importante das Nações Unidas", promovendo a igualdade de género e introduzindo alterações no sentido de tornar mais eficaz as Nações Unidas e o seu sistema.
Instado pela Lusa sobre se Portugal apoia uma reforma no próprio sistema da ONU, Santos Silva lembrou que as posições portuguesas são "claras".
"Em primeiro lugar, entendemos que a reforma do Sistema das Nações Unidas deve incluir o próprio Conselho de Segurança, que a composição do Conselho de Segurança, no que diz respeito aos seus membros permanentes, que era compreensível no pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), tem de ser atualizada", referiu.
"Defendemos a presença, como membros permanentes, de pelo menos a Índia, o Brasil e um país africano e, depois, estamos envolvidos nas reformas em curso e necessárias em duas organizações do Sistema das Nações Unidas -- a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Comércio (OMC)", acrescentou.
O chefe da diplomacia portuguesa realçou ainda o apoio de Portugal ao secretário-geral da ONU no "Pilar de Segurança e Paz", na organização de missões de paz, na promoção sistemática da igualdade de género nos escalões mais altos e em todos os organismos das Nações Unidas, bem como "noutros aspetos de natureza mais funcional".
O Conselho de Segurança da ONU aprovou hoje a atribuição a António Guterres de um segundo mandato como secretário-geral da organização, entre 2022 e 2026, período em que se espera se empenhe na resolução de conflitos.
No cargo desde janeiro de 2017, o ex-primeiro-ministro português, de 72 anos, era o único candidato, já que, apesar de ter havido 10 candidaturas individuais, nenhuma foi aceite, por não contar com o apoio de qualquer um dos 193 países membros da organização.
Numa breve sessão à porta fechada, o Conselho de Segurança, essencial no processo de nomeação, foi unânime em recomendar à Assembleia-Geral das Nações Unidas a manutenção do seu líder, anunciou o presidente em exercício daquele órgão, o embaixador estónio Sven Jürgenson.
A confirmação formal da Assembleia-Geral é aguardada para breve.
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