"Não existem condições para prosseguir o plano de desconfinamento"
A ministra da Presidência, a quem coube esta semana anunciar as medidas relativas à pandemia, classificou como "preocupantes" os níveis de incidência no país e apelou ao cumprimento das regras. Trata-se de uma "corrida contra o tempo entre a vacinação e a progressão da doença", alertou. Proibição de entrada e saída, no fim de semana, na AML mantém-se, mas com uma novidade.
© António Cotrim/Lusa
País Pandemia
"Portugal encontra-se claramente na zona vermelha da matriz de risco, pelo que não existem condições para prosseguir o plano de desconfinamento previsto", anunciou esta quinta-feira a ministra Mariana Vieira da Silva, revelando que a incidência é, neste momento, de 129.6 no continente e o Rt de 1.18, também no continente".
A ministra da Presidência prosseguiu, afirmando que, se ao longo de todo o processo de desconfinamento - até parte de junho - foi sempre possível permanecer na zona verde ou amarela, neste momento Portugal "tem níveis de incidência preocupantes", razão pela qual "não temos condições de avançar".
Internados em UCI aumentaram 26%
Mariana Vieira da Silva sublinhou o facto de, ao longo da última semana, o país ter tido um aumento de casos de 34%, um crescimento dos internamentos de 30% e dos internados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) de cerca de 26%.
"É evidente que do ponto de vista da utilização do SNS ainda estamos longe das linhas vermelhas que tinham sido definidas, mas temos neste momento um registo de crescimento dos internamentos e em UCI, e isso significa também, que além da incidência e do Rt, temos uma situação que é complexa e que exige à atenção de todos", vincou.
AML, Alentejo e Algarve com "níveis de risco mais graves"
Quando olhamos para a dispersão territorial da pandemia no território, vemos que, embora umas partes do país se encontrem com níveis de incidência abaixo dos limites, "tanto em AML, como no Alentejo, como no Algarve, verificam-se territórios com níveis de risco mais graves", disse a ministra. Paralelamente, e apesar do cenário no país ser mais negativo, há concelhos que "conseguem recuperar". É o caso, esta semana, de Águeda e da Sertã.
Todavia, temos "muitos concelhos já em situação de alerta, cerca de 19", que estão essencialmente na periferia da área de LVT, na zona Centro e também no Algarve. São eles: Alenquer, Avis, Castelo de Vide, Castro Daire, Chamusca, Constância, Faro, Lagoa, Mira, Olhão, Paredes de Coura, Portimão, Porto, Rio Maior, Santarém, São Brás de Alportel, Silves, Sousel, Torres Vedras.
A governante anunciou que os concelhos com níveis elevados ou muito elevados de incidência terão durante a próxima semana "regras distintas".
Em primeiro lugar, há 25 concelhos que, por terem por duas semanas consecutivas, mais de 120 casos ou 240 casos por 100 mil habitantes, terão os horários [da restauração, por exemplo] diminuídos para as 22h30.
"O conjunto de regras que se aplicava até agora a poucos concelhos, como em Lisboa, aplicar-se-ão a 25 municípios. O que significa um recuo significativo que decorre da aplicação da matriz"
Entre estes concelhos estão: Alcochete, Almada, Amadora, Arruda dos Vinhos, Barreiro, Braga, Cascais, Grândola , Lagos, Loulé, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odemira, Odivelas, Oeiras, Palmela, Sardoal, Seixal, Setúbal, Sines, Sintra, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira.
Lista atualizada dos concelhos e o respetivo nível no desconfinamento© GovernoMariana Vieira da Silva informou ainda que há "três concelhos que recuam, dois novos e um que já estava", e que são: Albufeira, Lisboa e Sesimbra (que já estava recuado). Nestes concelhos, "a partir deste fim de semana", os restaurantes passam a encerrar às 15h30, bem como os estabelecimentos comerciais. Já os supermercados fecham portas às 19h.
A ministra da Presidência alertou que, se os dados se mantiverem, na próxima semana mais 16 concelhos juntar-se-ão a estes três, maioritariamente na região metropolitana de Lisboa e no Algarve. "Este é o sinal de que a situação se agrava no nosso país", sublinhou.
O Governo decidiu também manter a proibição de circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa (AML) aos fins de semana. Há, no entanto, uma novidade: a possibilidade de sair ou entrar da Grande Lisboa recorrendo a um teste negativo (PCR com no mínimo 72 horas ou antigénio com um mínimo de 48 horas, ambos feitos em laboratórios) ou certificado digital. Esta medida decorre do facto de o Executivo ter aprovado um decreto-lei que regulamenta o certificado digital Covid-19 na UE.
Com o que hoje o Governo aprovou, estes certificados passam a poder ser usados dentro do país a partir desta semana, em eventos para os quais já eram obrigatórios testes: casamentos, batizados, eventos com mais de 500 pessoas no interior ou mil pessoas no exterior, ou quando existam limitações à liberdade de circulação, como acontecerá no fim de semana na AML.
Mariana Vieira da Silva indicou, no final da conferência de imprensa, que o Governo "está, neste momento, a estudar uma forma de poder comparticipar os custos" dos testes à Covid-19, antevendo novidades para os próximos dias.
"Como sabem, há concelhos que os disponibilizam gratuitamente, mas eles não são gratuitos. O objetivo é que sejam cada vez mais usados"
700 mil pessoas com mais de 60 anos ainda não estão totalmente vacinadas
Depois de anunciar as principais decisões tomadas, Mariana Vieira da Silva voltou a enfatizar que o país se encontra numa situação "mais grave" e que "cabe-nos a todos procurar combatê-la". "Temos, neste momento, ainda mais de 700 mil pessoas com mais de 60 anos que ainda não têm a vacinação completa, faltando a segunda dose", lembrou, acrescentando que "este é um período muito importante do controlo da pandemia".
Estamos numa luta contra o tempo entre a vacinação e a progressão da doença. E isso faz com que seja necessário pedir a todos um esforço suplementar a todos"
A ministra adiantou que a expetativa que o Governo tem, de acordo com as vacinas atualmente disponíveis, é que a cada semana podemos completar a vacinação de 320 mil pessoas. "Por isso, estamos numa luta contra o tempo entre a vacinação e a progressão da doença. E isso faz com que seja necessário pedir a todos um esforço suplementar a todos", reforçou o apelo.
Questionada pelos jornalistas sobre as declarações de Ferro Rodrigues, que apelou aos portugueses que se desloquem de forma massiva até Sevilha para assistirem ao próximo jogo da Seleção, Mariana Vieira da Silva não quis comentar declarações de outros órgãos de soberania, preferindo reafirmar a necessidade de procurarmos cumprir as regras, ser cautelosos, usar a máscara e evitar ajuntamentos. "Este é um momento crítico da evolução da pandemia no nosso país", insistiu.
Apesar de a situação ser hoje mais grave, Mariana Vieira da Silva recusou falar em "descontrolo total da pandemia". "Temos em muitos territórios incidências ainda baixas", disse, defendendo que há a necessidade de "responder cedo a um crescimento".
"Sabemos que a variante Delta tem aqui um papel importante nos países em que ela tem uma presença grande, desde logo o Reino Unido e Portugal. Mas sejamos claros, sempre dissemos que o aumento dos contactos sociais, e o facto de termos retomado uma parte significativa do nosso dia a dia, teria sempre como efeito o aumento do número de casos". Não era "expetável que fosse tão elevado", assumiu, justificando as decisões.
As decisões hoje tomadas acontecem cem dias depois de Portugal ter iniciado o desconfinamento na zona verde da matriz de risco, encontrando-se agora com os indicadores de controlo da pandemia de Covid-19 no vermelho.
Reveja aqui o anúncio das decisões hoje tomadas:
[Notícia atualizada às 16h40]
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