De Macau para Portugal, das férias adiadas ao regresso possível

Uma das mais longas quarentenas do mundo, obrigatória no regresso a Macau, tem 'sequestrado' aos poucos a esperança a Filipe Figueiredo de ainda este ano passar férias em Portugal, acompanhado da mulher e dos quatro filhos.

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Lusa
04/07/2021 06:07 ‧ 04/07/2021 por Lusa

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Covid-19

 

"Ninguém vai a Portugal para estar menos de duas semanas. Duas semanas em Portugal, mais três semanas em quarentena, são cinco semanas. E ninguém tem cinco semanas de férias", conclui o advogado.

Já Margarida Galamba, também emigrante em Macau, partiu este fim de semana para Portugal. Depois de um confinamento profilático que se determinou a cumprir, os primeiros meses vão ser em regime de férias, mas somente porque decidiu, após 15 anos, 'reformar-se' do antigo território administrado por Portugal.

Em Macau, não parecem ser os custos acrescidos ou mesmo o risco de eventuais contágios que dissuadem os emigrantes portugueses de irem de férias a Portugal.

O problema, admitem, é depois o regresso a um dos territórios mais seguros do mundo em termos pandémicos, cuja quarentena obrigatória num quarto de hotel pode chegar quase a um mês se o local de origem for considerado de alto risco, sendo que, atualmente, é de 21 dias para quem volta de Portugal.

O aumento do preço das passagens aéreas e do número de escalas desencoraja, mas é o risco de eventuais surtos de covid-19 poderem 'roubar' ligações aéreas e/ou obrigarem Macau a reforçar as medidas de prevenção fronteiriças que dissuadiu a família de Filipe Figueiredo, deixando-a pelo segundo verão consecutivo 'em terra'. Conclusão, talvez no Natal, se não, em 2022, admite.

"Apesar de dois dos meus filhos estarem em idade de serem vacinados, outros dois não estão, e, portanto, confesso que não sei como é que isto se ia processar em termos de deslocações, que testes é que podiam fazer ou não", explica.

"Mas depois outro problema que é o da quarentena", acrescenta, sem conseguir disfarçar um riso: "uma família de seis pessoas fechada, (...) durante 21 dias, acho que não seria muito bom para ninguém (...) sobretudo com crianças pequenas".

O advogado, que é também presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau, destaca "uma certa instabilidade em termos mundiais" para também justificar a decisão.

Afinal, se, "de um momento para o outro, há, por exemplo, um surto em Singapura que impede que os aviões (...) venham para Macau, as viagens de regresso estariam automaticamente cortadas", assinala, lembrando um cenário com o qual foram confrontados alguns emigrantes portugueses no último Natal. "Sobretudo quando se sabe que "a política adotada por Macau é bastante conservadora e rigorosa", reforça.

Uma visão corroborada por Margarida Galamba. Há dois anos sem férias, a ex-dirigente da Casa de Portugal admite que está "um bocadinho apreensiva" porque "o contexto [pandémico] é muito diferente" entre Macau e Portugal.

"Andamos de máscara, estamos vacinados, mas não temos aquele medo de 'ai ai que vou ser infetado'. Porque não há casos em Macau" e aqueles que chegaram à fronteira "ficaram à porta" ou foram encaminhados para o hospital ou para quarentena nos quartos de hotel.

Em Portugal, o período inicial de férias de Margarida Galamba vai ser muito diferente de todos os outros anos pré-pandémicos. A cautela impera. Vai para casa dos pais, já idosos, cumprir o tal confinamento profilático, apesar de estar vacinada, assim como eles.

Não contava sair num cenário de pandemia, mas o contexto familiar pesou, ainda que agora a viagem custe o dobro e que falte na bagagem o certificado digital covid da União Europeia, algo que "foi impossível tratar", à falta de informação consular, e que deve afetar "milhares de portugueses fora de Portugal (...) que não estão inseridos no programa de vacinação" do Serviço Nacional de Saúde", sublinha.

Macau registou pouco mais de meia centena de casos, nenhuma morte associada à covid-19. No território não foi identificado qualquer surto comunitário e nenhum dos profissionais de saúde foi infetado.

Em Portugal, morreram mais de 17 mil pessoas e foram confirmados quase 880 mil casos de infeção, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A pandemia de covid-19 provocou quase quatro milhões de óbitos em todo o mundo e infetou perto de 200 milhões de pessoas.

A doença respiratória é provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Leia Também: Macau regista 55.º caso importado em estudante oriunda da Suíça

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