Em declarações à agência Lusa, Raimundo Narciso, que já foi membro da direcção da Associação do 25 de Abril, lembrou ainda o papel desempenhado por Otelo Saraiva durante o "período revolucionário", logo a seguir ao 25 de abril, admitindo que, mais tarde, o ora falecido se tenha tornado posteriormente numa "figura controversa".
"É contudo do ponto de vista político uma figua controversa, mas teve o apoio da esquerda e dos populares e nunca deixou de ser uma figura carismática", observou.
Segundo Raimundo Narciso, a participação de Otelo no caso das FP-25 de Abril acabou por prejudicar a sua imagem, mas isso "não pode fazer esquecer o seu papel na organização".
"Otelo nunca deixou de ser uma figura simbólica do 25 de abril e que tem a simpatia do povo português", conclui Raimundo Narciso.
Antigo membro do PCP e um dos maiores ativistas da ARA (Acção Revolucionária Armada), criada pelo PCP na clandestindade para lutar contra as guerras coloniais que envolviam Portugal e impulsionar o derrube do regime e da ditadura implantada em 1926, Narciso Raimundo foi expulso do PCP em novembro de 1991, por contestar a posição da direção do PCP, de apoio ao "fracassado golpe de Moscovo para afastar Gorbatchev", Raimundo Narciso foi um dos fundadores da Plataforma de Esquerda (1992/95).
Em 1995, em representação da Plataforma de Esquerda, no âmbito de um acordo com Jorge Sampaio e depois com António Guterres, integrou, como independente, a lista de deputados do PS, por Lisboa. Em 1998 filiou-se no PS.
Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada aos 84 anos, no hospital militar.
Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril, organização armada responsável por vários atentados em mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.
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