Outubro e (especialmente) novembro prometem ser meses 'quentes', com diversos setores profissionais a anunciarem greves para alertar para as crises que vivem e a reclamarem melhores condições, nomeadamente após ter sido conhecida a proposta do Orçamento do Estado para 2022 por parte do Governo.
Função Pública, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos de emergência pré-hospitalar e bombeiros são as categorias profissionais que (já) marcaram paralisações.
Já este mês, no próximo dia 22, os técnicos de emergência pré-hospitalar vão estar em greve, exigindo a revisão da carreira e melhores condições de trabalho, num dia para o qual agendaram também uma manifestação em Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar (STEPH), Rui Lázaro, explicou que os motivos são os que têm vindo a ser reivindicados pela estrutura sindical e que se mantém sem resposta, "apesar da reunião de julho onde foram assumidos compromissos" pela tutela.
Para a greve, que arranca às 00h00 de dia 22 e termina às 24h00 do mesmo dia, estão previstos serviços mínimos.
Farmacêuticos. "Primeira greve que o sindicato convoca em 20 anos"
Também os farmacêuticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) marcaram uma greve para este mês de outubro. A partir das 00h00 de dia 28, e durante seis dias, os profissionais exigem a concretização da residência farmacêutica, abertura de concurso para progressão na carreira e revisão do estatuto remuneratório.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF), Henrique Reguengo, que convocou a paralisação, disse que esta será "a primeira greve que o sindicato convoca em 20 anos", sublinhando que "nenhuma outra classe tem cedido tanto como os farmacêuticos, sempre esperando que o futuro fosse melhor". "Se há profissionais para quem a greve é mesmo o último recurso é para os farmacêuticos", acrescentou.
A greve tem serviços mínimos decretados e abrange todos os farmacêuticos que trabalham no SNS - farmácia hospitalar, laboratórios e genética humana.
Enfermeiros 'páram' e concentram-se em frente à Assembleia
A terceira paralisação marcada é a dos enfermeiros, com data para a primeira semana de novembro. Esta classe fará ainda uma concentração no dia 28 deste mês em frente à Assembleia da República, anunciou à Lusa fonte sindical.
A concentração de enfermeiros e de todos os sindicatos, em frente ao Parlamento, visa reivindicar os direitos dos enfermeiros, com a entrega da petição: 'Enfermeiros reclamam descongelamento da carreira e avaliação de desempenho igual aos enfermeiros da Região Autónoma da Madeira'.
Pedro Costa, dirigente sindical, sublinhou que "a greve tem sempre uma dupla responsabilidade": "responder às justas reivindicações dos enfermeiros, mas ao mesmo tempo valorizar o acesso aos cuidados de saúde por parte da população". As medidas anunciadas pelos sindicatos surgem no seguimento da falta de resposta a um documento reivindicativo entregue ao Ministério da Saúde em 21 de setembro pelos sete sindicatos.
OE "esqueceu-se completamente" dos Bombeiros
Segue-se uma paralisação dos bombeiros profissionais nos dias 11 e 12 novembro, para contestarem a proposta de Orçamento do Estado para 2022, que "se esqueceu completamente" da classe. "Mais uma vez o Orçamento do Estado esqueceu-se por completo dos bombeiros e da proteção civil, não vemos qualquer tipo de financiamento que resolva as questões que reivindicamos", disse à agência Lusa o presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais, Sérgio Carvalho.
Entre as reivindicações estão aumentos salariais, subsídio de risco igual ao das forças de segurança, num valor de 100 euros mensais, regulamentação de todo o setor dos bombeiros e proteção civil, revisão da tabela salarial dos bombeiros sapadores, tendo em conta que tal não acontece desde 2009, e 35 horas de trabalho, segundo a ANBP/SNBP.
Os bombeiros profissionais exigem também o direito à pré-reforma equiparada às forças de segurança, integração imediata da Força Especial de Proteção Civil nos quadros da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e enquadramento dos operadores das centrais da gestão de emergência dos comandos distritais e nacional de operações e socorro.
Frente Comum propõe paralisação no dia 12
Também no dia 12 de novembro, a Frente Comum propõe aos sindicatos a realização de uma greve nacional da Função Pública, para dar continuidade à defesa das suas reivindicações.
"A Frente Comum convoca os trabalhadores da Administração Pública para a continuidade da luta em defesa das suas reivindicações, propondo aos sindicatos a realização de uma greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública, no próximo dia 12 de novembro", pode ler-se num comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
A decisão, explica a Frente Comum, vem no seguimento da "ausência de propostas que deem resposta aos problemas com que todos os trabalhadores da Administração Pública".
Médicos fazem greve (com quatro reivindicações)
Por fim, os médicos. A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) reuniram, esta quarta-feira, para analisar o estado atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e os problemas laborais enfrentados pelos seus médicos, e o cenário que se apresentava como provável foi confirmado no final do encontro: vão avançar com uma greve geral de três dias - a 23, 24 e 25 de novembro.
E as reivindicações são quatro: "a melhoria das condições de trabalho; a defesa da carreira médica, ou seja, de uma diferenciação técnico-científica de qualidade; a justa e adequada remuneração dos médicos; a possibilidade de opção pelo regime de trabalho em dedicação exclusiva, devidamente majorada e acessível a todos os médicos".
Uma vez conhecida a proposta de Orçamento do Estado, consideram que a mesma contém medidas "desproporcionais e desadequadas em relação às reais necessidades do SNS", e com elas "os médicos estão a ser empurrados para um caminho de confronto que não desejariam". A atual "crise do SNS" que, concluem, "só pode ser ultrapassada (...) com medidas de força, imediatas e sustentáveis, que incluam uma adequada gestão de recursos humanos".
Temido acredita que profissionais da Saúde entenderão OE
A Saúde - com médicos, enfermeiros e farmacêuticos com greves marcadas - é o setor que mais irá 'parar'. Contudo, a ministra Marta Temido mantém-se confiante e defendeu hoje que, debatendo com "maior profundidade" o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) com as várias classes profissionais, muitas das razões que as levaram a marcar greves irão ficar resolvidas.
"Temos a expectativa de que explicando ao longo dos próximos tempos com maior profundidade as soluções que o Orçamento do Estado para 2022 traz e, naturalmente, esperamos que também no processo parlamentar ele possa ainda ser robustecido, estas questões fiquem ultrapassadas", afirmou Marta Temido.
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