"Olhando para trás, continuo sem perceber os objetivos daquela cerca e parece-me que não mudou nada", disse a presidente da junta de freguesia, em declarações à agência Lusa.
Assinalando os seis meses desde que foi decretada a cerca sanitária nas freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, a autarca disse notar apenas uma diferença: "Não vejo tantos grupos de imigrantes nas ruas".
"Eles continuam cá, mas, se calhar, não andam tanto em grupo na rua. Continuam nas mesmas casas, não temos mais casas na freguesia, porque não houve construção, portanto, não sei, sinceramente, o que mudou", argumentou.
Esta sexta-feira cumprem-se seis meses desde que o Governo decretou a cerca sanitária naquelas duas freguesias do concelho de Odemira, no distrito de Beja, devido à elevada incidência de casos de Covid-19, sobretudo entre trabalhadores migrantes das explorações agrícolas.
Os casos de Covid-19 detetados entre os trabalhadores denunciaram as condições desumanas em que viviam, com casos de sobrelotação de habitações, levando a transferências para a Pousada da Juventude de Almograve e Residência para Estudantes de Odemira e, posteriormente, também a realojamentos.
Devido à cerca sanitária, o Governo determinou a requisição civil do empreendimento turístico Zmar, naquele concelho do litoral alentejano, para alojar trabalhadores migrantes em confinamento obrigatório ou permitir o seu "isolamento profilático", medida que foi contestada por moradores e pela massa insolvente.
No final de maio, o Governo assinou um acordo para a cedência temporária de 34 alojamentos no empreendimento, para serem usados caso a situação pandémica no município o justificasse.
A 10 de junho, entrou em vigor a revogação aprovada pelo Governo do despacho de requisição temporária do Zmar.
A cerca sanitária, decretada no dia 29 de abril, terminou a 12 de maio, um dia depois do anúncio feito pelo primeiro-ministro, António Costa, numa cerimónia na vila de Odemira, onde assinou dois memorandos com o município e as empresas agrícolas para dar resposta aos problemas identificados.
"Esperava mais porque aquele aparato todo. Se não serviu para mudar" a situação, "não merecia a pena", criticou hoje a autarca, recordando os dias de "angústia" vividos pelos residentes da freguesia e, sobretudo, pelas "pessoas que precisavam de trabalhar, comerciantes e empresários".
No seu entender, a cerca sanitária causou alguns danos na imagem da freguesia de Longueira-Almograve e do concelho de Odemira, embora sem reflexos no período de verão, mais curto para os empresários, mas com muitos turistas.
Os comerciantes da restauração "foram prejudicados porque trabalharam menos tempo, mas o tempo que trabalharam tiveram imensos turistas. Penso que os turismos e alojamentos [locais] também estiveram sempre cheios", disse.
A presidente da junta defendeu mais investimento do Governo neste território, sobretudo ao nível dos serviços públicos e da habitação: "Falta habitação condigna" para os "imigrantes, mas também para os nacionais", porque "há pessoas a viverem em situações muito más e indignas".
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