A Missão da Organização das Nações Unidas (ONU) na República Centro-Africana (RCA) revelou, em comunicado, que teve conhecimento da Operação Miríade "pela imprensa". Apelida as alegações de tráfico de diamantes como "graves" e diz-se disponível para colaborar.
"A MINUSCA tomou conhecimento através da imprensa na segunda-feira, dia 8 de novembro de 2021, das alegações contra militares portugueses anteriormente destacados na Missão na República Centro-Africana", pode ler-se no documento - aqui na íntegra.
A missão mostra-se ainda "disposta a prestar toda a assistência solicitada pelas autoridades portuguesas" através da sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
"As alegações são graves. A sede [da ONU] está a acompanhar de perto o caso e está em contacto com as autoridades portuguesas", conclui a nota.
De lembrar que a investigação sobre o tráfico de diamantes e outros crimes ligados aos Comandos identifica Paulo Nazaré como o líder de uma rede criminosa que utilizava transferências bancárias, terceiras pessoas e transações de Bitcoin para branquear capitais.
Segundo o despacho do inquérito, a que a Lusa teve hoje acesso, este ex-militar da 2.ª Força Nacional Destacada (FND) das Forças Armadas, que prestou serviço como soldado na República Centro-Africana (RCA), entre outubro de 2017 e março de 2018, quando voltou à vida civil optou por criar e liderar uma rede criminosa, não tendo desde então desenvolvido qualquer atividade profissional lícita e remunerada.
Paulo Nazaré e o seu alegado braço-direito Wilker Rodrigues foram os arguidos que ficaram em prisão preventiva após as medidas de coação decididas pelo juiz de instrução criminal Carlos Alexandre para os 11 arguidos do processo levados a interrogatório.
A investigação refere que a rede criminosa integra militares e ex-militares que se dedicam a obter proventos económicos ilícitos através da contrafação e utilização fraudulenta de cartões de débito/crédito, contrafação e passagem de moeda falsa, tráfico de droga, contrabando de diamantes e ouro, 'phishing', transferências e pagamentos fictícios, transações de bitcoins, acessos ilegítimos e burlas, designadamente informáticas, tendo por objetivo o branqueamento de capitais.
Na origem do inquérito estiveram duas denúncias à Polícia Judiciária Militar, tendo depois sido apreendido pela Polícia Judiciária, em março de 2020, um envelope confidencial contendo oito diamantes, pelos quais Ricardo Marçal - que foi introduzido por Paulo Nazaré na transação - tinha pagado cerca de 10 mil euros. Contudo, as perícias efetuadas por peritos aos diamantes apreendidos (três em bruto e cinco lapidados) concluíram que o seu valor global não ia além dos 290,78 euros.
A PJ realizou na segunda-feira 100 mandados de busca e fez 11 detenções, no âmbito da Operação Miríade, num inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa. Após interrogatório, foi aplicada a suspensão do exercício de profissão a quatro arguidos, bem como proibições de contactos e de se ausentar do país a oito arguidos. Nove arguidos terão a obrigação de apresentações periódicas às autoridades.
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