Internato médico: "24% preferiram ficar fora do SNS e da carreira médica"
Sindicato Independente dos Médicos (SIM) lamenta que tenham ficado vagas por preencher e aponta o dedo ao Governo e à ministra da Saúde. "Exaustos, desconsiderados pelo poder, mal pagos e com condições de trabalho insuportáveis, não há resiliência que perdure", dizem os profissionais.
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Terminou esta quinta-feira, dia 9, o período de escolha das vagas de formação específica (Internato Médico) em medicina. "Dos 2.462 candidatos, houve 591 que preferiram rescindir e não efetivar a sua escolha. Isto é, praticamente 24% preferiram ficar fora do SNS e da Carreira Médica", lamenta o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), num comunicado difundido esta sexta-feira.
Sendo "certo que, desses candidatos, alguns já são especialistas e esta foi uma tentativa mal sucedida de mudança de área", o sindicato liderado por Roque da Cunha refere que "muitos irão ou tentar novo exame para o ano para melhoria de nota de acesso ou procurar frequência de internato no estrangeiro". "E aceitarão ofertas do sector privado ou Serviço de Urgência público bastante mais atrativas que a integração no SNS", prevê.
Segundo a nota, esta é "a primeira vez, desde que há mais candidatos que vagas, que não são escolhidas todas as vagas".
O sindicato detalha que ficaram ainda por ocupar 31 vagas de Medicina Interna (e 10 das vagas de Medicina Interna não escolhidas pertencem ao Centro Hospitalar de Lisboa Norte) e 14 de Medicina Geral e Familiar (nove das quais na ARSLVT [Autoridade Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo]).
Esta realidade leva o SIM a apontar o dedo diretamente a Marta Temido. "Por certo que a Sr.ª Ministra da Saúde pintará o quadro de cor-de-rosa e a comunicação social receberá Notas Informativas governamentais a publicitar que muitas centenas de milhões irão ser injetados no SNS", comenta, recordando as demissões de responsáveis médicos que se sucedem, assim como as aposentações e "a fuga para as entidades privadas" que se multiplicam.
"A recusa em serem ultrapassados os limites de trabalho extraordinário avoluma-se, urgências ficam encerradas por falta de médicos para preencherem as escalas (já de si quantas vezes abaixo dos mínimos recomendáveis). Exaustos, desconsiderados pelo Poder, mal pagos e com condições de trabalho insuportáveis, não há resiliência que perdure", remata, numa referência às declarações da ministra sobre a resiliência dos profissionais de saúde.
Esta quinta-feira, respondendo a Batista Leite (PSD) no Parlamento, a responsável pela pasta da Saúde afirmou que "resiliência foi ter visto os profissionais de saúde a resistirem a cortes salariais, ao aumento do horário de trabalho, a cortes no subsídio, a redução dos períodos de descanso e a um conjunto de aspetos a que foram submetidos há não muitos anos". Direitos esses que o atual Governo procurou repor, defendeu.
A ministra admitiu que "há problemas no Serviço Nacional de Saúde", mas recusou que este esteja pior do que no início da governação socialista. "O SNS não fez tudo perfeito, tem muito para fazer e tudo para melhorar, mas conseguiu manter uma resposta assistencial à população e conseguiu responder a uma pandemia", frisou.
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