"Propomos a institucionalização de um serviço público de cultura: uma política de Estado que promova a democratização da cultura, a sua implantação em todo o território, livre dos condicionalismos e da sujeição ao mercado e ao gosto que promove, com todas as restrições que ele impõe à livre criação -- logo, ao trabalho - de milhares de artistas", afirmou Jerónimo de Sousa num encontro com artistas e trabalhadores do setor da cultura realizado no Fórum Lisboa.
Segundo o líder dos comunistas, esta possibilidade, "com o adequado financiamento, deve ser o garante do acesso à criação e fruição culturais em todo o país".
Jerónimo de Sousa defendeu que este financiamento poderia ser alcançado a partir do Orçamento do Estado, "com a atribuição de 1% à cultura, caminhando para 1% do PIB", tendo criticado a alocação presente no último OE proposto, que "se ficava pelos 0,3%".
O secretário-geral do PCP apontou ainda que este serviço público de cultura tem "necessariamente de ser construído num processo aberto e muito amplamente participado", de forma a perceber "os anseios, as carências, as realizadas existentes e as potencialidades" a nível nacional, mas também regional.
Num discurso feito na iniciativa "Por um Serviço Público de Cultura", onde foi exibida curta-metragem "Terceiro Turno", de Mário Macedo, e onde atuou o grupo Sebastião Antunes e Adufe, o líder comunista reforçou que o setor cultural vive uma "dramática situação" e que a pandemia da covid-19 "deixou ainda mais a claro a necessidade de combater e erradicar o trabalho precário".
Jerónimo de Sousa apontou que em Portugal se "banalizou a precariedade, a instabilidade e a incerteza" e que o "centenas de trabalhadores" foram afastados da cultura por impossibilidade de sobrevivência.
"Os que se mantêm defrontam-se com instabilidade e incerteza quanto ao seu futuro, com consequências no presente nas suas vidas, mas também no seu trabalho de criação artística ou de estudo e reflexão sobre o património material e imaterial do povo português", reforçou.
Na intervenção, o secretário-geral comunista abordou também as livrarias, tendo destacado a "avassaladora lei das rendas", que levou "ao fecho de dezenas de pequenas e médias livrarias".
Jerónimo de Sousa considerou que as políticas adotadas por "sucessivos governos no setor da cultura são idênticas" à da saúde ou da educação, que "se caracterizam por desinvestimento e subfinanciamento, fecho e concentração de serviços e estruturas, elevada redução do número de trabalhadores e consequente insuficiência crónica, elevados níveis de precariedade dos vínculos laborais e degradação dos serviços públicos e da oferta existente".
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