"Eu desafio a ANA/VINCI [concessionária do aeroporto de Lisboa] a provar que a solução `Aeroporto Humberto Delgado [AHD] + Montijo´, que não está validada do ponto de vista ambiental, é mais barata que a construção do Novo Aeroporto de Lisboa [NAL] no Campo de Tiro de Alcochete [CTA], em que o `hub´ passa para lá", disse à agência Lusa Carlos Matias Ramos, ex-bastonário dos Engenheiros (2010-2016) e ex-presidente do LNEC, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (2005-2010).
`O Aeroporto de Lisboa -- Perspetiva Estratégica de Interesse Nacional´ é o título do documento assinado pelo ex-presidente do LNEC Carlos Matias Ramos, pelo engenheiro de Aeródromos Carlos Brás e pelo consultor aeroportuário, investigador do Instituto Superior Técnico (IST) e ex-quadro da ANA - Aeroportos de Portugal Victor Rocha.
Para o ex-presidente do LNEC, o documento, que hoje foi divulgado pela Plataforma Cívica BA6 Não´ - que se opõe a construção de um aeroporto complementar do aeroporto Humberto Delgado no Montijo -, pretende alertar para o que diz ser um "dogma" sobre a localização de um aeroporto complementar de Lisboa na Base Aérea do Montijo.
"Neste momento o país está a assistir a um dogma, em que se diz que o Montijo é mais barato. Isto é um dogma. Alguém conhece algum documento em que isto esteja dito, de forma técnica, sustentada, em custos e em análises comparadas? Não conheço. E tenho pedido", disse à agência Lusa Carlos Matias Ramos, reiterando o pedido à ANA e ao Governo para demonstrarem que a opção pelo Montijo é mais barata do que a construção faseada do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) em Alcochete.
Convicto de que "a inteligência e o conhecimento" vão acabar por se sobrepor a alegados fatores externos, que nada têm a ver com o interesse nacional, Carlos Matias Ramos recordou que a resolução do Conselho de Ministros que decidiu pela construção do NAL em Alcochete "ainda não foi revogada".
Além disso, acrescentou, "existe um Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML) -- a última versão é de 2011 --, em que está lá consagrada a construção do novo aeroporto de Lisboa no CTA e da terceira travessia do Tejo na Área Metropolitana de Lisboa".
"Neste momento já foi tudo posto em causa. Com valores, com situações sustentadas? Não. É por `feeling´, ou então por influências, que não são propriamente de interesse público. Eu digo isto com toda a clareza, não tenho problema nenhum em dizê-lo. Mostrem-me os documentos que provam que aquela solução Montijo é boa", desafiou, mais uma vez, o antigo presidente do LNEC
"O Montijo é uma solução má, é péssima. Não tem sentido nenhum e é um erro estratégico para o futuro do país", sublinhou o antigo presidente do LNEC.
No documento, a que a agência Lusa teve acesso, os subscritores defendem que o aeroporto deve sair de Lisboa, garantem que o atual aeroporto Humberto Delgado (AHD) nunca será o `hub´ que a cidade de Lisboa, o país e a TAP necessitam e consideram que é "urgente tomar a decisão correta".
Os subscritores sustentam ainda que a Declaração de Impacte Ambiental (DIA), para a construção do novo aeroporto no CTA, "caducou em dezembro de 2020, porque a ANA não terá desenvolvido junto da Agência Portuguesa do Ambiente [APA] as diligências necessárias à respetiva renovação", mas lembram que a "zona de implantação do aeroporto no CTA não se alterou de forma significativa desde dezembro de 2020".
"A minha mágoa é saber que há capacidade de inteligência no país e que ela está a ser desmobilizada, devido a fatores que são externos ao conhecimento. E as decisões são feitas um pouco `ad-hoc´ e casuísticas", disse Carlos Matias Ramos, reiterando a ideia de que a escolha do Montijo é uma "péssima" solução para o país.
"O nosso documento é um desafio à reflexão. Um desafio a que não se tomem decisões que não sejam sustentadas numa análise técnica, financeira, económica, ambiental, de Ordenamento do Território, de segurança em termos aeronáuticos e, fundamentalmente, com uma perspetiva de futuro. Não queremos coisas que sejam remendos, queremos coisas que tenham uma lógica de futuro", concluiu Carlos Matias Ramos.
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