Para o cónego Hélder Fonseca Mendes - à frente da diocese de Angra e das Ilhas dos Açores desde novembro de 2021, após a nomeação do então bispo diocesano, João Lavrador, para Viana do Castelo -- "hoje parece arcaica e ultrapassada a prece dos [...] antepassados, que em parte explica o desenvolvimento do culto a São Sebastião nos Açores: que Deus nos livre da fome, da peste e da guerra".
"Pese embora o uso avançado da razão cheia de luzes e o crescimento sempre ascendente da civilização, eis-nos a braços com o aumento da fome no mundo, pelo efeito das alterações climáticas, das deslocações de refugiados, da pandemia e do desemprego; a peste da década a que demos nome de covid-19, com um considerável número de mortes, doentes e de sequelas na saúde, sobretudo na saúde mental; e a guerra, quer aos retalhos, quer como uma ameaça global às portas da Europa, a que as Lajes dariam passagem, insinuando que havemos de nos envolver no jogo dos poderosos e dos seus ocultos interesses", escreve Hélder Fonseca Mendes na sua nota pastoral para a quaresma.
Neste contexto, o sacerdote exorta: "Em vez da fome, da peste e da guerra, tomemos como caminho alternativo, livre, racional e moderno o jejum, a esmola e a oração, que se completam mutuamente em ordem à caridade e à misericórdia".
"O jejum é a forma de penitência que se concretiza na privação de alimentos e bebidas, bem como de vícios e dependências. A abstinência consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre, renunciando ao esbanjamento e ao desperdício", lembra, acrescentando que "um modo de penitência é através da renúncia quaresmal, que consiste no dinheiro que cada católico junta durante a quaresma, como fruto das renúncias diárias que vai fazendo, em espírito de oração e conversão".
Em 2021, nos Açores, a renúncia quaresmal serviu para aquisição de um ventilador ou suporte de vida para uma unidade de saúde da região "e para acudir às solicitações mais prementes decorrentes dos efeitos indiretos da pandemia nos Açores, tendo rendido o total de 16.007,81 euros".
Este ano, o valor dessa renúncia dos católicos açorianos entre a Quarta-feira de Cinzas e a Quinta-feira Santa (de 02 de março a 14 de abril), será destinado "a São Tomé e Príncipe, como socorro a uma situação de pobreza agravada pela pandemia", informa o cónego Hélder Fonseca Mendes.
Na sua mensagem aos católicos das nove ilhas do arquipélago dos Açores, o responsável diocesano acrescenta que "ficam por realizar este ano dois sinais expressivos: as procissões penitenciais e as romarias quaresmais, que se crê estas terem surgido há 500 anos, aquando da destruição vulcânica de Vila Franca do Campo em 1522".
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