Na manhã de 24 de fevereiro, a partir do Porto, Oksana Sokhatska ficou "em choque" ao ver as imagens da invasão da Ucrânia, país onde cresceu e o qual deixara há 16 anos.
Sem nada conseguir fazer, socorreu-lhe apenas o telefone para saber se a mais de quatro mil quilómetros de distância a irmã, a sobrinha de 12 anos, o cunhado, os primos, os tios e amigos estavam bem.
Em Dunaivtsi, cidade ucraniana situada no Oblast de Khmelnystski e onde vive a irmã, chegou - apesar do "pânico" - algum "sossego".
"No primeiro dia sofreram bombardeamentos a cerca de cinco quilómetros de distância, mas agora estão mais calmos", contou à Lusa.
Desde então, Oksana trocou o café da manhã por mensagens e chamadas para os seus familiares.
"É uma preocupação muito grande, mas eles acalmam-me mais a mim do que eu a eles", admitiu a ucraniana, formada em biologia e investigadora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Apesar de apenas querer os seus familiares por perto, Oksana compreende o que os faz ficar.
"É deixar uma vida toda para trás e sair. Não saber quando voltam e, se voltam, o que vão encontrar e ver", salientou.
De Dunaivtsi, além da calma, chegam também promessas: "se a situação se agravar saem de lá, têm combustível e tudo preparado para sair se estiverem em perigo".
Em casa de Oksana, os desenhos animados que o filho de 9 anos costumava ver foram substituídos pelos noticiários, numa tentativa constante de acompanhar a invasão russa, a qual pensava que "nunca iria acontecer".
Recordando os tempos em que "russos e ucranianos eram amigos", Oksana lamentou a tragédia que se vive no seu país, onde as principais vítimas, disse, "são as crianças".
"As crianças não deviam ver o que estão a ver, nem viver isto. Vai marcá-las para a vida toda e não o merecem", observou.
Com um filho de nove anos em casa, que já visitou várias vezes a Ucrânia, explicar o que lá se passa, sem fraquejar, têm sido um desafio.
"Tive de conter as lágrimas quando no primeiro dia dos ataques, ele pegou num autocolante em forma de estrela que tem colado na parede do quarto e que caiu e disse que era para iluminar a minha sobrinha", contou.
Neste momento, o único desejo de Oksana é que "tudo acalme", sem vencedores ou vencidos, numa guerra em que acredita que "o povo russo poderá fazer a diferença".
"A única solução que vejo para sair disto tudo é que o povo que elegeu este homem [Putin], que está a tornar o mundo tão infeliz, o destitua do poder", considerou.
Até lá e quando os conflitos sanarem, o destino de Oksana é apenas um: a Ucrânia e os braços dos seus familiares e amigos.
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