Em comunicado, a Humanitas refere que, enquanto membro da European Association of Service providers for Persons with Disabilities (EASPD), tem recebido "testemunhos horrorizantes".
"Existem mais de 2,7 milhões de pessoas com deficiência na Ucrânia. Destas, estima-se que mais de 260 mil tenham deficiência intelectual", indica a federação, numa nota de imprensa enviada hoje à agência Lusa.
De acordo com informação da EASPD, "devido ao seu contexto, muitas destas pessoas estão inabilitadas de sair do país, com uma condição extremamente precária e ameaçadora, não conseguindo, sequer, ter abrigo", disse, citada na mesma nota, a presidente da Humanitas, Helena Albuquerque.
A Federação considera que "é urgente" criar corredores humanitários acessíveis, que permitam a saída segura destas pessoas e das suas famílias.
"Uma simples saída para ir buscar comida ou medicamentos é praticamente impossível. Estamos a falar de casos de pessoas com deficiência intelectual, que não conseguem estar sozinhas muito tempo e que descompensam em situações de stress, necessitando de rotinas para se sentirem seguras. Uma guerra é a situação antítese de uma vivência rotineira", salienta Helena Albuquerque.
A responsável acrescenta que a maioria das pessoas com deficiência intelectual "não consegue realizar um percurso tão longo e tão imprevisível como os que são possíveis" para sair do país.
"Estamos a falar de direitos humanos e de proteção dos mais vulneráveis, o que constitui uma das premissas do ideal europeu. Não está a existir apoio suficiente por parte das forças governamentais para conseguir auxiliar esta população", sublinha.
Neste sentido, a Humanitas pede ao Governo e à sociedade que coloquem esforços em doação para as associações, considerando que ao nível da deficiência "é preciso redobrar esforços para ajudar quem ainda permanece no país".
A Federação Portuguesa para a Deficiência Mental, com sede em Lisboa, representa cerca de 10.000 pessoas com deficiência intelectual, apoiadas por 40 instituições.
A Humanitas apela ainda à doação à ONG National Assembly of Persons with Disabilities Ukraine, que, de acordo com a EASPD, está a "apoiar ativamente as pessoas com deficiência e suas famílias na Ucrânia com capacidade de agir localmente por meio de seus membros".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 691 mortos e mais de 1.140 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
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