"Por todos os pais que já perderam os seus filhos, por todos os filhos que já perderam os seus pais, por todas as crianças que já perderam a vida nesta guerra, é urgente a paz", afirmou o diretor executivo da Amnistia Internacional - Portugal, Pedro Neto, indicando que a imagem que "mais custa" da ofensiva militar russa na Ucrânia é a de carrinhos de bebé em memória das crianças que já morreram.
Junto da Embaixada da Rússia, em Lisboa, alguns manifestantes carregaram a bandeira da Ucrânia às costas, houve quem juntasse a bandeira de Portugal e quem usasse cravos vermelhos - símbolo da Revolução de 25 de Abril -, tendo sido erguidos vários cartazes com frases como "No Dia do Pai as crianças e os seus pais deveriam estar juntos!", "Russia is a terrorist state" ("A Rússia é um estado terrorista", na tradução do inglês), "Stop war" ("Parem a guerra") e "Remove Putin" ("Removam Putin").
Em uníssono, os manifestaram prometeram não parar de protestar em prol do fim da guerra na Ucrânia: "Contra o conflito armado pressionar a Rússia em todo o lado".
Presente na iniciativa promovida pela Amnistia Internacional -- Portugal "pela paz e pelos direitos humanos", a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets, disse que "esta manifestação significa que os portugueses apoiam o povo ucraniano que está a lutar contra Putin, contra o regime de Putin e contra a barbaridade que este país desencadeou no território da Ucrânia", concordando com a participação de cidadãos da Rússia nestes protestos, apesar de lembrar que "muito russos também apoiam Putin".
Sobre o simbolismo desta manifestação no Dia do Pai, Inna Ohnivets reforçou que muitos pais ucranianos estão destacados no exército para defender a sua pátria e estão separados das crianças e das mulheres que precisaram de fugir do país para salvar as suas vidas devido à invasão militar da Rússia.
"Esta situação é bastante triste para os pais e para as crianças, mas eu sou otimista, porque a Ucrânia vai vencer e os pais vão juntar-se com as suas crianças", declarou a embaixadora da Ucrânia em Portugal.
Com a filha de 4 anos nos ombros e o filho de 8 ao lado, o luso-ucraniano Voloolymyr Tsiselskyy, que vive há duas décadas em Portugal, decidiu manifestar-se contra a guerra, carregando um cartaz contra o presidente da Rússia, em que defende que Vladimir Putin "é o diabo e é pior do que Hitler" e que o conflito que está a acontecer "é a terceira guerra mundial que começou na Ucrânia".
Erguendo um cartaz a dizer "As nossas irmãs e irmãos russos estão na prisão porque protestam contra a guerra", João Martins explicou que não tem qualquer ligação à Rússia e que a mensagem que pretende passar "é contra a guerra, é pela paz", referindo que tem "muito poucas certezas" acerca do que se está a passar no mundo, mas uma sabia: "É que a guerra é muito, muito má e toda a gente sofre com isso, o povo ucraniano, mas também o povo russo".
"Nós vemos isso pelas pessoas que tentam manifestar-se, que se manifestam aos milhares na Rússia e que são presas, há milhares de pessoas presas na Rússia", realçou João Martins, acrescentando ainda o caso dos soldados russos de 18 anos que "são carne para canhão".
Questionado sobre a pouca adesão a esta manifestação em comparação a outras que já aconteceram em Lisboa, o diretor executivo da Amnistia Internacional -- Portugal afirmou que a participação registada hoje, com cerca de três centenas de pessoas, "não é uma desilusão", acrescentando que a organização foi "sem expectativas": "Se estivesse cá só uma pessoa a dizer o que tem de ser dito já estávamos a cumprir a nossa missão".
"Quanto mais tempo passa mais o assunto vai saindo da ordem do dia, da opinião pública, e esse é o maior inimigo da paz: o esquecimento", alertou Pedro Neto, reforçando a urgência de acabar com o conflito na Ucrânia, contra os argumentos que começaram esta guerra "sem justificação".
Neste âmbito, Pedro Neto explicou que a Amnistia Internacional está a trabalhar em várias frentes, nomeadamente, na Ucrânia, a documentar e a investigar ataques a civis, que poderão constituir crimes de guerra.
O responsável da secção portuguesa acrescentou que a organização não-governamental está também a colaborar no acolhimento aos refugiados junto às fronteiras, principalmente na Polónia, Hungria e Moldova, prestando ainda assistência a defensores de direitos humanos "muitos até russos, muitos até bielorrussos, que estavam na Ucrânia já refugiados, tendo fugido dos seus países e que agora também têm que sair".
A Amnistia Internacional -- Portugal já enviou 20.000 assinaturas para a Embaixada da Rússia e para o ministro da Defesa da Federação Russa, Serguei Shoigú, a pedir o fim deste "ato de agressão", a proteção das pessoas na Ucrânia e o respeito pelo direito internacional.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 847 mortos e 1.399 feridos entre a população civil, incluindo mais de 140 crianças, e provocou a fuga de cerca de 5,2 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,3 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Leia Também: AO MINUTO: Plano Marshall 2.0?; China deve condenar "barbárie russa"