"Conheço o Chimoio há 53 anos, conheço Maputo vai para 54 anos, mas conheço Cabo Delgado, conheço Niassa, conheço Tete, conheço por aí adiante, todo Moçambique há mais de 50 anos. Quer dizer que estou muito velhinho, e comecei a conhecer muito cedo. E sinto, de cada vez que cá venho, que gosto mais de Moçambique do que da última vez", declarou o Presidente português, num hotel de Maputo.
Numa intervenção de meia hora, perante cerca de 400 portugueses aqui residentes, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu Moçambique como "uma grande pátria irmã, fascinante, sedutora, enfeitiçante", com a qual se deve assumir "um compromisso de aposta no futuro".
"Eu mesmo duvido de vez em quando se não há quem se sinta, no segredo do seu coração, mais moçambicano do que português. Eu não me zango, porque é a minha segunda pátria", disse-lhes.
"Eu percebo, porque quem aqui chega, quem aqui vive, nunca mais deixa de ter raízes também em Moçambique, passa a ter duplas raízes para sempre", acrescentou, exclamando: "viva Moçambique, viva Portugal".
No fim de uma visita oficial de quatro dias, Marcelo Rebelo de Sousa prometeu voltar já em agosto, para a reabertura, após restauro, da catedral de Quelimane, capital provincial da Zambézia.
Nessa altura, admitiu "percorrer outros caminhos aqui em Moçambique, quem sabe se ir com o Presidente Nyusi a Cabo Delgado, mas certamente ter a oportunidade de passar por Maputo".
Esta foi a sua terceira deslocação enquanto Presidente da República a Moçambique, que escolheu como destino da sua primeira visita de Estado, em maio de 2016, circunscrita à capital e arredores, e onde regressou em janeiro de 2020, para a posse de Nyusi após a sua reeleição, ocasião em que, além de Maputo, foi à Beira.
Marcelo Rebelo de Sousa, que tem 73 anos, conheceu Moçambique entre os 19 e os 20, em temporadas de férias dos estudos na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, durante o mandato do seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, como governador-geral (1968-1970) da então província ultramarina, em plena guerra colonial.
Nesse período, nasceu a sua amizade com o pintor e poeta Malangatana, cujos quadros encheriam a sua casa em Cascais.
"Recordar como o conheci e como ficámos irmãos é recordar 1968 e o primeiro quadro, comprado com a minha mesada de estudante do 2.º ano da universidade. Mais os encontros em 1969 e 1970, em Lourenço Marques [atual Maputo] e em Matalana", escreveu, quando soube da sua morte, em janeiro de 2011.
Duas décadas depois do 25 de Abril de 1974 e da independência de Moçambique em 1975, Marcelo Rebelo de Sousa visitou o país em funções políticas, como presidente do PSD, ativo na defesa de uma política externa que desse primazia à relação com os países de língua portuguesa, em detrimento da Europa.
Nessa altura, outubro de 1996, cumpriam-se seis anos sobre a assinatura do Acordo Geral de Paz entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e dois anos sobre as primeiras eleições livres neste país africano. Marcelo Rebelo de Sousa quis "dar o abraço do PSD a Moçambique" e celebrar "o tempo de democracia".
Em Maputo, foi recebido por Joaquim Chissano, à época Presidente da República, mas também se reuniu com Afonso Dhlakama -- que liderou a Renamo até à sua morte, em 2018 -- e anunciou "memorandos de entendimento" para a cooperação do PSD com os dois partidos moçambicanos.
Afastado da vida partidária, continuou a deslocar-se frequentemente a Moçambique, sobretudo para conferências e ações de intercâmbio académico, na qualidade de professor universitário de Direito. Chegou a fazer emissões dos seus programas de comentário televisivo a partir de Maputo.
A última visita que fez antes de ser Presidente da República foi em dezembro de 2015, quando era candidato presidencial, para participar no primeiro Fórum Social e Económico de Moçambique.
"Quaisquer que sejam as funções que assumirei no futuro, está presente em Moçambique um tratamento privilegiado, um carinho especial e um entendimento natural que passa por muita gente moçambicana, muita dela responsável, e pelo estreitamento de relações entre países, instituições, economias, culturas e universidades", declarou em entrevista à Lusa, na altura.
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