O comentador político Luís Marques Mendes considerou, este domingo, que o novo Governo, que irá tomar posse no próximo dia 30 de março, tem “duas vantagens” por ser “mais pequeno” e mais “ao centro”. Mas, alerta, também há “um risco”.
“Há duas vantagens que este Governo tem”, começou por afirmar no seu habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, da SIC.
“A primeira é que - fazendo fé nas palavras do primeiro-ministro - vai ser um Governo mais pequeno, com menos ministros e com menos secretários de Estado do que o anterior”, explicou, frisando que o “Governo que está a terminar funções era demasiado grande e isso tornava-o menos eficaz.”
Já a segunda “vantagem” prende-se com a posição política do partido. “Vai ser um Governo mais ao centro. Ou seja, já não tem geringonça. Já não tem PCP e já não tem Bloco de Esquerda”, elucidou o ex-líder do PSD.
Apesar das “duas vantagens”, Marques Mendes alertou para um “risco” relacionado com a composição do próximo Governo, uma vez que “quatro pessoas que se fala que irão ser ministros” são também apontadas como os sucessores de António Costa, quando o primeiro-ministro abandonar o Partido Socialista. São eles: Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes.
“Há algumas pessoas que dizem: ‘Ah, mas tê-los lá dentro [no Governo] é uma boa ideia’. Porquê? Porque assim o primeiro-ministro está lá e controla-os e vigia-os. Portanto, é melhor tê-los por perto do que tê-los longe. Eu penso de maneira diferente. Acho que isto pode ser um erro enorme”, considerou.
Na ótica do comentador, a decisão de António Costa pode originar uma “guerra de guerrilha” entre os seus quatro possíveis sucessores e, consequentemente, dentro do próprio Governo. “Cá fora, estarão sempre de futuro aberto. Lá dentro, é guerra de guerrilha”, sustentou.
Em causa está também a “solidez” do Governo e o facto da presença dos ministros poder dar origem a uma “competição muito pouco saudável”. “Acho que há aqui um risco enorme de levar para dentro do Governo os conflitos que são habituais, normais e tradicionais dentro do partido”, defendeu.
Além das “duas vantagens” e de “um risco”, Marques Mendes levantou ainda uma “dúvida”: “Vai ser um Governo reformista ou não vai ser?”.
Se no Governo anterior, o PCP e o Bloco de Esquerda “impediam” as reformas “agora não há esse impedimento”, considerou. Esta dúvida só ficará esclarecida quando “for conhecida a cara dos ministros” e “ouvido o discurso de tomada de posse de António Costa” e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. E justificou: “Eu acho que só há verdadeiras reformas no país se o Presidente da República assumir o papel de acelerador de reformas. Alguém que exija e crie as condições para que se façam reformas.”
Preço do gás? É “provável” a aprovação de um “teto máximo”
Já abordando a crise económica, provocada pela invasão russa da Ucrânia, o conselheiro de Estado lembrou que António Costa já anunciou que irá haver “uma revisão em baixa” do crescimento económico previsto para este ano e que a próxima reunião do Conselho Europeu, na próxima semana, será “muito importante” para ajudar as empresas prejudicadas pelo aumento dos preços.
O comentador acredita que é “provável” a aprovação de um “teto máximo” de referência para o preço do gás, que permitirá “baixar o preço da eletricidade”, apesar de “gerar um défice tarifário”.
Ainda esta semana, afirma Marques Mendes, a Comissão Europeia “provavelmente” vai autorizar os “Estados-membros a reduzir o IVA da energia, de 23 para 13%”.
Este será também um “desafio” que o novo Governo não esperava devido à guerra, mas há algo que “não será alterado”: o Plano de Recuperação e Resiliência.
Leia Também: BE quer sobretaxa sobre empresas para apoiar famílias mais vulneráveis