Manuel Carmo Gomes defende a nova composição do relatório semanal dos dados relativos à Covid-19 a nível nacional, sublinhando que esse trabalho requer recursos humanos e que a situação atual do país está "estabilizada", não sendo "absolutamente premente ter um acompanhamento da Covid" tal como acontecia anteriormente.
Recorde-se que a Direção-Geral da Saúde (DGS) foi criticada, no sábado passado, pelo matemático Henrique Oliveira, por causa da divulgação dos boletins epidemiológicos referentes à Covid-19, agora semanais. No entendimento do especialista, este novo modelo de relatório é "pobre", por não incluir os dados diários, e reportam números com dias de atraso.
A propósito deste tema, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes ofereceu, após contactado pelo Notícias ao Minuto, uma explicação a esta opção da DGS, que abandonou assim a divulgação diária de um relatório de situação.
Como explica o investigador, a "DGS tem escassez de recursos humanos" e uma "publicação diária do boletim é uma sobrecarga considerável" a esse nível. Por isso, na sua perspetiva, o organismo público vê-se obrigado a "gerir os recursos que tem".
Manuel Carmo Gomes diz, neste sentido, que "há que ter em atenção" que uma divulgação diária de um boletim epidemiológico requer "uma ou duas pessoas" responsáveis por essa tarefa, tendo a DGS sido obrigada a ponderar se isso "se justificava ou não".
"Se era melhor manter o boletim diário, claro que era. Mas isso consome recursos e os recursos humanos têm de ser geridos. Penso que isso ajudou a fundamentar a decisão que a DGS tomou", apontou Carmo Gomes.
O epidemiologista, que integra a comissão técnica de vacinação contra a Covid-19, diz ainda que, de acordo com a informação que tem na sua posse, "todas as entidades que têm obrigações oficiais ou oficiosas" na prestação de apoio ao Ministério da Saúde, como é o caso da comissão a que pertence, "continuam a receber a informação com a mesma regularidade e com um grau de detalhe que é até superior", em comparação com a que era disponibilizada através do "boletim diário da DGS".
Questionado quanto ao facto de, a cada sexta-feira, serem divulgados os dados da Covid-19 da semana que termina na segunda-feira anterior, o especialista reconhece esse "atraso" na comunicação dos números - embora, uma vez mais, explique que "estas coisas requerem recursos humanos".
Neste contexto, considera ser "suficiente" a informação que, neste momento, chega aos portugueses. "É evidente que há informações que nós gostávamos de ter e que nunca chegámos a ter numa base regular. Mas isso não é de agora, isso acontece desde 2020", explica.
O especialista refere ainda que, "neste momento", não é "absolutamente premente ter um acompanhamento da Covid" tal como acontecia anteriormente, caracterizando a atual situação como estando "estabilizada". Porém, tal não invalida que possa, entretanto, "surgir uma nova variante que nos pregue, mais uma vez, uma surpresa" e que volte a transformar a situação da doença numa "emergência".
Na sua opinião, a Covid-19 vai, assim, "passar a ser apenas uma preocupação dos técnicos, das pessoas que realmente têm de acompanhar" a evolução da doença, tal como é feito com outras patologias, como a "legionella, a gripe e outras doenças respiratórias".
Neste sentido, Manuel Carmo Gomes considera ser "normal" a alocação de recursos que, até agora, estavam empenhados na "disponibilização da informação diária" sobre a epidemia ao público em geral, noutros assuntos, "também importantes".
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