"A principal razão nem é ambiental", salienta Francisco Ferreira em entrevista à agência Lusa, indicando que apesar de não haver emissões de gases com efeitos de estufa na produção de energia a partir de fontes nucleares, "a energia nuclear é a fonte mais cara de produzir".
"É a mais cara por quilowatt-hora produzido, sem sequer incluir a componente do destino a dar aos resíduos radioativos" de operação de uma central, uma "herança permanente" que fica radioativa durante séculos.
Para Francisco Ferreira, a guerra na Ucrânia expôs a dependência europeia das importações de energia russa e a necessidade de "fazer um investimento real em eficiência energética e energias renováveis, ficando com um caminho traçado e definitivo" para deixar de usar combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão na produção de energia e continuar a emitir gases com efeitos de estufa.
"Não tem sentido um investimento no nuclear. Se começássemos a fazer investimentos significativos de infraestruturas para essa opção, estaríamos a gerar investimentos ociosos que nos iriam sair muito caros", argumenta.
Para Portugal, o nuclear também deve continuar fora da mesa, defende, referindo que o país "tem flexibilidade de gestão da rede elétrica e segurança de abastecimento com o que tem e com o solar a aumentar".
"Essa questão nem se coloca. Portugal pode ser um exemplo internacional do que foi o resultado do concurso para o Pego, uma central a carvão desativada que vai ter um novo futuro apostado nas renováveis, no armazenamento de energia e no hidrogénio verde e em soluções que acomodam uma transição justa para a comunidade", saúda o ambientalista.
O ambientalista destaca ainda os custos necessários com a segurança, que aumentaram depois do acidente com a central japonesa de Fukushima, afetada pelo tsunami de 2011 "e também com a guerra na Ucrânia, mais uma vulnerabilidade" ilustrada com os ataques russos para tomar instalações ucranianas.
"Tem que haver mecanismos de salvaguarda para o caso de não haver eletricidade e combustível para geradores de emergência" que garantam o funcionamento do arrefecimento do núcleo, indica.
"Outra razão para dizermos que a energia nuclear não é resposta é o tempo entre decisões e efetivação, quando precisamos de soluções muito mais imediatas", considera Francisco Ferreira.
Na Finlândia, a central nuclear Olkiluoto 3, que está em testes e já ligada à rede, "tinha um custo previsto de três mil milhões, mas o custo final foi de 11 mil milhões e demorou 16 anos entre a decisão e a efetivação".
Francisco Ferreira aponta "o crescimento na energia solar, que vai passar a potência instalada ao longo desta década e conseguir, tudo indica, 13 gigawatts de nova potência".
"Claro que o solar só produz durante o dia e depende do estado do tempo, mas terá a capacidade de produzir o equivalente a umas 10 centrais nucleares", antevê.
O presidente da ZERO assume que a instalação de vastos campos de painéis solares tem "custos para a paisagem" e salienta que a aposta também tem que passar por "medidas de redução de consumo e eficiência energética".
"Comparados com o nuclear, esses impactos podem ser reduzidos sendo mais criterioso para a sustentabilidade do solar e do eólico. Começam por não apresentar riscos de acidentes e não deixar resíduos para as próximas gerações", um problema que se vê, por exemplo, em Espanha, onde a central de Almaraz, à beira do Tejo e a cerca de 100 quilómetros da fronteira com Portugal, está a "apanhar com resíduos" de outras instalações.
Espanha "não tem um destino para os seus resíduos, nem os Estados Unidos decidiram um local definitivo para a sua deposição, além de que os custos de desmantelamento de uma central são muito significativos, uma herança que França vai ter".
A localização também tem que ter sempre em conta "restrições sísmicas, proximidade de água para arrefecimento e distância das populações".
Além disso, "não há flexibilidade de operação que uma central térmica a gás natural ou hidroelétrica tem" no que toca ao volume de energia que bombeia para a rede: "uma central nuclear tem reatores muito potentes e, ou está a entrar na rede a toda a potência ou não, não se tem grande folga".
Francisco Ferreira lembra que "as Nações Unidas não consideram a fissão nuclear como forma sustentável de produção de energia elétrica por causa destas condicionantes fortíssimas", além de que "não é uma energia renovável e pode não contribuir para a independência energética, porque se mantém a dependência do fornecimento de urânio" para os reatores.
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