O fundador e presidente da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) e líder dos muçulmanos xiitas ismailis, Aga Khan, morreu ontem, aos 88 anos, em Lisboa. Várias personalidades expressaram as suas condolências, tendo dado conta do seu "legado de transformação" e do "enorme vazio" deixado pelo 49.º Imam hereditário dos muçulmanos ismaelitas.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou "profundo pesar" pela morte de Aga Khan, recordando o líder dos muçulmanos xiitas ismailis como "um bom amigo de Portugal", cuja vida foi marcada por um "trabalho incansável em prol da elevação da dignidade humana e da proteção dos mais desfavorecidos".
O responsável complementou ainda que Aga Khan "assumiu-se também como figura notável de uma fé aberta ao mundo, sob o signo da tolerância no profundo respeito pelo outro, sendo igualmente notável o seu trabalho de apoio à cultura, às artes e à educação".
Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, expressou "profundo pesar", ao mesmo tempo que sublinhou que a personalidade e obra do líder dos muçulmanos xiitas ismailis "permanecerão para sempre na memória dos portugueses".
"É com profundo pesar que o Governo português lamenta o falecimento do Príncipe Aga Khan, Imã da Comunidade Muçulmana Xiita Ismaili. A sua personalidade e a sua obra permanecerão para sempre na memória dos portugueses. Os mais sentidos pêsames à família de Sua Alteza e à comunidade ismaelita do mundo inteiro", escreveu, na rede social X (Twitter).
Já o secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, ecoou os sentimentos anteriores, tendo considerado que Aga Khan deixa "um legado de transformação na comunidade ismaelita, que em Portugal tem uma presença importante e respeitada".
Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, considerou que a morte de Aga Khan "deixa um enorme vazio na cidade", onde o líder espiritual dos muçulmanos xiitas ismaelitas "encontrou uma casa", da qual "fez um palco para a sua visão que juntou culturas e cruzava fronteiras".
"A morte do príncipe Aga Khan, Imam dos muçulmanos ismaelitas, deixa um enorme vazio em Lisboa. Foi graças à sua obra e visão que milhões de pessoas em todo o mundo escaparam à pobreza, tiveram acesso a cuidados de saúde e encontraram uma oportunidade para estudar", disse, em comunicado.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, enalteceu ainda o líder dos muçulmanos xiitas ismailis enquanto "um símbolo de paz, tolerância e compaixão no nosso mundo conturbado", tendo expressado as "mais profundas condolências à família de Sua Alteza e à comunidade ismaelita".
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento também apresentou as condolências à família do seu fundador e presidente e salientou que o seu sucessor designado será anunciado "em breve". Numa nota publicada na rede social Instagram, a Rede Aga Khan frisou que o líder dos muçulmanos xiitas ismailis morreu hoje, aos 88 anos, "pacificamente em Lisboa (...) rodeado pela sua família".
O patriarca de Lisboa, Rui Valério, lamentou a morte de Aga Khan, recordando "a longa cooperação do Patriarcado de Lisboa com a Fundação Aga Khan em prol do bem comum". Em nota publicada divulgada hoje, Rui Valério evoca, "de forma particular, o compromisso pela melhoria das condições de grupos marginalizados".
Por seu lado, a Comunidade Israelita de Lisboa recordou a sua liderança longa conduzida pela integridade e ética da sua fé exemplar na sã convivência com outras religiões. "Uma liderança longa conduzida pela integridade e ética da sua fé, exemplar na sã convivência com outras religiões, e por uma notória e empenhada ação em promover a melhoria continuada da qualidade de vida da sua Comunidade", refere.
Quem será o sucessor?
O sucessor de Aga Khan é nomeado pelo próprio em testamento, a abrir 24 horas após a morte do príncipe dos ismaelitas. A escolha do novo líder da comunidade ismaelita, que vive espalhada pelo mundo, recairá sobre um dos três filhos homens: Hussain, Rahim e Aly.
Shah Karim al Hussaini, príncipe Aga Khan, 49.º Imam hereditário dos muçulmanos ismaelitas tem ligações ao Canadá, Irão e França, e nos últimos anos também a Portugal, com a escolha de Lisboa para sede mundial da comunidade ismaelita, 'Imamat Ismaili', tornando-a uma referência para os cerca de 15 milhões de muçulmanos da minoria xiita.
Discreto, tido como uma das pessoas mais ricas do mundo, Aga Khan IV nasceu a 13 de dezembro de 1936 na Suíça, filho do príncipe Aly Khan e da princesa Tajuddawlah Aly Khan. Cresceu no Quénia, frequentou a Le Rosey School, na Suíça, durante nove anos, e licenciou-se depois em Harvard, nos Estados Unidos.
Definiu-se como um "otimista mas cauteloso", alguém que não sendo um homem de negócios aprendeu a sê-lo, que acreditou que a pobreza existe, mas não é inevitável. E nas palavras de amigos foi alguém que nunca bebeu nem fumou e que dedicou muito do seu tempo ao trabalho e a visitas à comunidade.
Duas vezes casado, teve quatro filhos (um deles deve ser o seu sucessor, mas não Zahara, a única filha, porque mulher Imam "absolutamente não"), foi um apaixonado por esqui mas também por cavalos, e criou um império que vai da banca à hotelaria, que financia projetos de desenvolvimento social, incluindo em Portugal, onde existe desde 1983 a Fundação Aga Khan.
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) tem atividades em Portugal e no estrangeiro na área da cultura, da moda e dos festivais, da educação, com apoio a universidades, do ambiente, a ajudar a preservação de sítios, da área social, da sustentabilidade ou da saúde.
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