Sete crianças ucranianas com doenças oncológicas chegarão a Portugal nos próximos dias para receber tratamento, após o atraso burocrático que impediu que o processo fosse realizado mais cedo. A informação é avançada pela RTP, que adianta que três dos menores, de Kherson, cidade ocupada pelas forças russas, serão acompanhadas pelos familiares. No total, 18 pessoas rumarão a Portugal em breve, a partir da Polónia.
“Neste momento, estamos a planear enviar sete doentes e, ao todo, 18 pessoas para Portugal”, começou por dizer Alex Muller, uma das responsáveis pelo processo, em declarações à RTP.
“Assim que façamos todo o processo de avaliação, falaremos com os nossos colegas em Portugal e, se os doentes estiverem estáveis o suficiente para viajar, [Portugal organizará] o voo para o final desta semana”, complementou.
A operação está a ser preparada pela Sociedade Portuguesa de Oncologia Pediátrica e pela Secretaria de Estado da Saúde que, através de um voo da Força Aérea, recolherão os menores e as suas famílias.
“Naquilo que depende de Portugal, todo este processo será organizado em menos de 48 horas. Obviamente que estamos dependentes de toda a operação logística que a Polónia tem para poder [dar conforto às crianças] nos aeroportos”, sustentou António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde.
Três crianças de Kherson, cidade tomada pelos russos, ficarão no Porto com as suas famílias, diz a RTP. Uma delas receberá tratamento no Hospital de São João, enquanto as outras duas ficarão no Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto). As restantes, por sua vez, serão tratadas no IPO de Lisboa e de Coimbra.
Além disso, as crianças sem necessidade de ficar internadas serão acolhidas pela Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro, que disponibilizou quartos para 12 famílias. Segundo Jéssica Aras, da Casa Acreditar de Lisboa, as famílias serão repartidas pela casa de Lisboa, de Coimbra, e do Porto.
Recorde-se que questões burocráticas atrasaram o processo. Margarida Cruz, diretora-geral da instituição, admitiu à Lusa tratar-se de uma situação frustrante, uma vez que "uma boa parte de países" na Europa já recebeu crianças ucranianas com cancro, como é o caso de Espanha, Inglaterra, Alemanha, e Itália, onde já estão sob tratamento.
"Sei que estamos bastantes mais longe e, portanto, toda a logística de transporte de uma criança doente para Portugal é mais complexa como é evidente, mas apesar de tudo consegue-se fazer a logística de transporte, o que não conseguimos até agora foi a operacionalização devido a esta questão mais burocrática que, apesar de ser necessária, não é compatível de todo com uma situação de guerra", salientou, na altura.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já matou quase dois mil civis, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
O conflito provou ainda a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para os países vizinhos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Leia Também: Criança ucraniana de 10 anos morta a tiro por "soldados russos bêbados"