"Foi eleito num clima em que metade do país estava contra metade do país, e na Assembleia não era bem assim, mas era quase", declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa, numa cerimónia em que condecorou Ferro Rodrigues com a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, à qual assistiram o primeiro-ministro, António Costa, e o atual presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.
Referindo-se à solução inédita de governação minoritária do PS com apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, formada no fim de 2015, Marcelo Rebelo de Sousa prosseguiu: "Metade gostava muito do que estava a nascer, e metade desgostava muito do que estava a nascer, mas mesmo muito".
"Um dos alvos desse desgostar foi vossa excelência. Como é natural, a proeminência da função exercida tornava-o num alvo visível e um alvo, sobretudo no início, muito provável", acrescentou, dirigindo-se a Ferro Rodrigues, para concluir que o socialista teve, "portanto, um início complexo" de funções como presidente do parlamento.
A propósito da cooperação entre órgãos de soberania sobretudo nos dois últimos anos de pandemia de covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa falou da sua relação com António Costa, considerando que também não foi igualmente apreciada por todos os portugueses.
"Foi muito importante o muito bom relacionamento entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Uns gostavam, outros não gostavam, mas quando chegou à pandemia todos gostaram imenso - pelo menos durante um período de tempo, numa primeira fase, depois começaram a desgostar, como faz parte da lógica da democracia pluralista", descreveu.
O Presidente da República observou que o tempo da "Geringonça" agora "já é história, e sendo história faz parte da história político-institucional", ressalvando: "Não quer dizer que não se possa repetir, pode repetir-se sempre que a vontade popular conduzir a isso, e a vontade partidária, e a vontade parlamentar. Mas já é história, já há um certo distanciamento".
Marcelo Rebelo de Sousa recuou ao passado para salientar a "complexidade do exercício da função" de presidente do parlamento por Ferro Rodrigues, da qual disse recordar-se que o próprio "de início não tinha gostado muito".
"Eu como tenho uma memória muito grande, memória de elefante, lembro-me que no início encarava com algum desprazer, pelo seu feitio muito livre, muito autónomo, uns dirão rebelde, politicamente incorreto, aquela missão, e depois passou a gostar muito. Não direi que terá passado a ser politicamente correto, isso era impossível, mas dentro do politicamente incorreto passou a realmente gostar imenso", relatou.
O Presidente da República realçou que em 2019 os deputados reelegeram Ferro Rodrigues "de uma forma mais expressiva, acalentando, portanto, o seu gosto".
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