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Ucranianos com pró-Kremlin? "Governo deveria ter informado autarquias"

Câmara Municipal de Setúbal reitera que pediu esclarecimentos e diz que cabia ao Governo informar as autarquias caso as suspeitas fossem "credíveis".

Ucranianos com pró-Kremlin? "Governo deveria ter informado autarquias"
Notícias ao Minuto

21:09 - 30/04/22 por Notícias ao Minuto

País Rússia/Ucrânia

A Câmara Municipal de Setúbal insiste que enviou uma carta ao primeiro-ministro, António Costa, na sequência “das suspeitas lançadas pela embaixadora da Ucrânia em Portugal em entrevista a um órgão de comunicação social” acerca do acolhimento de refugiados ucranianos recebidos por russos pró-Kremlin no gabinete de apoio da autarquia. Diz ainda que o Governo deveria ter informado o município caso considerasse que as suspeitas lançadas eram “credíveis”, uma vez que é o Executivo que “detém os necessários instrumentos para averiguar acusações de espionagem”.

Sublinhe-se que a Câmara de Setúbal já tinha afirmado que tinha enviado a São Bento uma carta – à qual não obteve resposta – sobre a entrevista de Inna Ohnivets. Contudo, o gabinete do primeiro-ministro, António Costa, desmentiu esta informação, esclarecendo que  “a carta que o presidente da Câmara Municipal de Setúbal dirigiu ao primeiro-ministro no passado dia 11/04/22 é um protesto sobre declarações prestadas pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa, à CNN, e foi reencaminhada para os efeitos tidos por convenientes para o MNE”. A nota indica ainda que “na referida carta não é solicitada qualquer informação sobre a Associação EDINSTVO, nem sobre o cidadão Igor Khashin”. 

Ainda assim, este sábado, a Câmara de Setúbal emitiu um novo comunicado, no qual insiste que “solicitou com a máxima celeridade ao Governo que prestasse esclarecimento sobre as suspeitas levantadas pela senhora embaixadora a propósito da associação de imigrantes de Leste que colabora com a autarquia setubalense desde 2005”.

“Após afirmações e suspeitas lançadas, no dia 8 de abril, pela embaixadora da Ucrânia em Portugal em entrevista a um órgão de comunicação social, o presidente da Câmara Municipal de Setúbal enviou, no dia seguinte, uma carta ao chefe do Governo, em que apela, (…) com toda a veemência, que o senhor primeiro-ministro clarifique, com a máxima urgência, com a senhora embaixadora as reais intenções do que foi afirmado [na referida entrevista], assim como a veracidade das afirmações da diplomata no que respeita à conversa que terá mantido com a senhora secretária de Estado da Igualdade e das Migrações’”, lê-se na nota da autarquia. 

A Câmara recorda que a embaixadora ucraniana em Portugal “afirmava temer ‘pela segurança dos refugiados ucranianos que chegam ao país’”, porque havia organizações pró-russas “infiltradas no apoio aos refugiados”. Assim, a autarquia entende que, face à “imediata ‘clarificação’ que solicitou ao primeiro-ministro, “logo que surgiram as primeiras suspeitas, pediu a intervenção direta de quem, no Governo, tutela o Alto Comissariado para as Migrações”. Contudo, não obteve, até então, “qualquer resposta”

“Não corresponde, pois, aos factos que a Câmara Municipal não tenha solicitado esclarecimentos ao senhor primeiro-ministro”, indica a nota.

“Decorre ainda deste pedido de ‘clarificação’ que, caso o Governo entendesse que as suspeitas lançadas pela senhora embaixadora eram credíveis, deveria, de imediato, ter informado a Câmara Municipal de Setúbal, e as outras autarquias onde existem associações de imigrantes alvo de suspeitas, da necessidade de adotar medidas, o que não aconteceu, embora se saiba que é o Governo quem detém os necessários instrumentos para averiguar acusações de espionagem”, acrescenta. 

Na mesma nota, a Câmara de Setúbal lamenta ainda que após os alertas feitos “aos serviços de informação do Estado, de acordo com as afirmações do senhor Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, estes serviços não tenham informado as diversas câmaras municipais ou entidades que acolhem refugiados para eventuais ações que possam configurar atos de espionagem”.

É de realçar que, no início de abril, a Associação dos Ucranianos em Portugal garantiu, numa carta a que a CNN teve acesso, que havia infiltrados pró-Putin em ONGs que apoiam os ucranianos, e que já tinha alertado as secretas. 

O que está em causa?

Segundo a notícia avançada pelo Expresso, pelo menos 160 refugiados ucranianos terão sido recebidos por Igor Khashin, da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), e pela mulher, Yulia Khashin, de origem russa. Estes terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal. 

A autarquia destaca que Yulia Kashina tem dupla nacionalidade e trabalha com a Câmara de Setúbal “há mais 17 anos, tendo entrado para os seus quadros como técnica superior jurista em 1 de dezembro de 2021” e que a Edintsvo “cooperou ininterruptamente com a Câmara Municipal de Setúbal desde 2005”. Além disso, a associação e “os seus dirigentes, nomeadamente o senhor Igor Kashin, colaboram desde há muito com entidades como o IEFP ou a Segurança Social” e que “até há poucas semanas cooperou com o SEF”.

“A Câmara Municipal repudia com veemência toda a campanha de mentira e distorção dos factos montada em torno desta matéria, garantindo que tudo fará para continuar a dar o necessário e mais do que justificado apoio a todos os refugiados que nos procurarem, como tem feito desde o início da guerra”, completa a nota, que indica ainda que a autarquia está "totalmente disponível" para prestar os necessários esclarecimentos na Assembleia da República. 

Leia Também: Igor Khashin? "Ele não é só pró-russo, ele é mesmo apoiante de Putin"

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