Em pleno centro do Rossio, junto à estátua, diversos cartazes e faixas davam o mote à iniciativa, em português, castelhano, inglês, árabe: "Boicote ao apartheid israelita", "Resistence is not terrorism" ("Resistência não é terrorismo"), "Palestina libre" ("Palestina livre"), "Fim da ocupação genocida, justiça para Shireen" eram frases erguidas por vários dos presentes, cerca de 200 pessoas.
Os manifestantes foram escutando diversas intervenções, de uma responsável palestiniana, de Carlos Almeida do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestiniano e Pela Paz no Médio Oriente, do dirigente do Bloco de Esquerda Fabian Figueiredo, do deputado do PCP Bruno Dias e do major Mário Tomé, da Associação 25 de Abril.
"Assistimos a um projeto de ocupação e limpeza étnica que avança todos os dias, com a cumplicidade da comunidade internacional. Shireen foi assassinada não apenas por ser jornalista, mas também por ser palestiniana", disse Carlos Almeida na sua intervenção, muito aplaudida.
Almeida também considerou que "o Governo português e os órgãos de soberania devem ser chamados à responsabilidade", e sem deixar de lamentar o texto divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a morte da repórter, "indigno do Portugal de Abril".
De megafone em punho, ativa na divulgação das palavras de ordem, Dima Mohamed, uma palestiniana que vive em Lisboa, manifestou à Lusa, no final da concentração, a esperança de sentir que o seu povo não está só.
"São dias muito difíceis, ver a jornalista assassinada, porque foi um assassínio. Mas com os 'media' a falarem de uma situação confusa, que não foi claro, apesar de haver pessoas no local a dizerem exatamente o que aconteceu. Estava tudo claro, mas não está a ser refletido nos media", referiu.
"Não é um momento fácil, mas ver as pessoas aqui hoje, é isso que nos dá força. Muito otimista em ver as pessoas aqui a falar da Palestina, a dizer que não estamos sozinhos. Estamos com as pessoas que acreditam na justiça e na força dos povos para alcançarem os seus direitos, as suas aspirações legítimas. Justiça, dignidade, liberdade".
Ainda no centro da praça, alguns dos presentes insistem em permanecer, agitam bandeiras palestinianas, fotografam, levantam os seus cartazes: "Não é conflito, é apartheid", "De Lisboa a Jenin, justiça para Shireen", também em língua árabe.
"Estamos aqui para amplificar a voz do meu povo na sua luta justa contra a opressão, a ocupação, o genocídio israelita. E para ouvir a voz solidária dos portugueses que também querem falar da solidariedade, que recusam esta cumplicidade silenciosa do mundo sobre o que está a acontecer na Palestina", prosseguiu Dima Mohamed, em tom convicto.
"Estamos aqui para dizer que Israel não pode continuar com esta impunidade. (...) Tem de acabar, são 74 anos desde a Nakba [A Catástrofe, como designam a limpeza étnica da população palestiniana no decurso da fundação do Estado de Israel em 1948], e que continua, não acabou".
A "voz solidária dos portugueses", Dima diz poder ajudar a "amplificar a voz do povo" palestiniano.
E aponta o caminho: "É importante ver a situação com clareza, temos um sistema de colonialismo que tem de acabar, não pertence aos nossos tempos. Basta".
A "impunidade" foi o principal argumento de Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda e outros dos intervenientes, antes do discurso militante e mobilizador de Bruno Dias, um dos diversos dirigentes políticos de partidos de esquerda que marcaram presença.
"O facto de as forças de ocupação se sentirem à vontade em abater uma jornalista em trabalho - uma voz livre, e não há liberdade sem imprensa livre - mostra a violência da ocupação israelita e a forma impune como se manifesta no dia a dia ao povo da Palestina", indicou o dirigente do BE à Lusa.
"Juntámo-nos hoje a várias vozes que exigem justiça para a jornalista Shireen Abu Akleh mas sobretudo o fim da ocupação israelita. Foi isso que nos trouxe cá e nos trará tantas vezes quantas forem necessárias. Denunciar o projeto genocida e de instauração do apartheid a que Israel submete o povo da Palestina".
Ainda na praça, já, em período de desmobilização, Filipa, ainda muito jovem, está na companhia de um amigo e interroga-se: "Porque não estão mais pessoas aqui?".
Mas justifica a sua presença. Diz ser "importante representar um problema que afeta uma parcela da população mundial, mas que também afeta toda a gente enquanto não estivermos todos bem. Custa ficar em casa a assistir a uma série de atrocidades. Porque não vir aqui?".
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