Manuela Ferreira Leite, ex-líder do PSD, comentou, esta quinta-feira à noite, na CNN Portugal, uma das 70 medidas que integram a Agenda do Trabalho Digno, nomeadamente a possibilidade de se reduzir a semana de trabalho de cinco para quatro dias.
Numa altura em que Portugal está a iniciar um governo de maioria absoluta, Ferreira Leite salientou que "a última coisa que o país precisa neste momento é de estudos", esclarecendo que "muito concretamente se sabe exatamente quais são os problemas que existem", apontando a "falta de competitividade", como um aspeto "fundamental e prioritário" de empobrecimento.
"Tomar decisões nesta área desta forma, dá-me a sensação daquele tipo de motoristas que entram pela faixa errada da autoestrada e vão pelo sentido contrário", expressou a ex-líder do PSD, frisando que "estamos neste momento numa farsa política do pior".
A antiga ministra das Finanças comentou que "quer-se encobrir outros temas" e explicou que este surgiu, "simplesmente como estudo", porque o partido Livre, que tem uma representação na Assembleia da República (AR) com um deputado, "se presta ao triste espetáculo e papel de fingir que é a oposição da Assembleia e que o Governo negoceia com ele". A seu ver, "a negociação do Governo está traduzida num acordo com um deputado da AR para mostrar que a maioria absoluta cede certas coisas e faz um anúncio que não tem o mínimo das possibilidades de vir à luz do dia seja em que situação for".
"Os jovens não ficam pelos quatro ou cinco dias, [ficam] é pelos níveis de vencimentos", disse, acrescentando: "Se eu esmiuçasse a medida em si, ela acabava já porque é evidente que iria perguntar como é que seria possível fazer isto no setor público também".
Na opinião de Ferreira Leite, "estamos mesmo a brincar porque não é possível ser exequível", visto que "o maior empregador precário neste país é o Estado", logo, na sua ótica, esta medida "não tem hipótese nenhuma de execução".
Constança Urbano de Sousa, ex-ministra da Administração Interna, marcou presença ao lado de Manuela Ferreira Leite, onde defendeu que a semana de quatro dias de trabalho "é algo muito crucial para podermos reter trabalhadores mais jovens", devido ao facto de permitir a possibilidade de "conciliação entre a vida familiar e a vida laboral".
Nas suas palavras, "sem termos novas formas de organização de trabalho que permitam aos jovens uma melhor conciliação entre a sua vida pessoal e profissional, dificilmente ultrapassaremos um dos grandes desafios que é o inverno demográfico". Como tal, "temos que estudar sem receio", disse.
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