A curva epidémica do vírus Monkeypox "mostra diferentes vias de exposição, incluindo a presença em locais específicos, ou seja, saunas utilizadas para encontros sexuais, viagens ao estrangeiro (Espanha, Reino Unido e Brasil) durante o período de incubação e contacto com cidadãos não portugueses", revela um estudo sobre o percurso do vírus Monkeypox em Portugal.
O trabalho é da equipa multidisciplinar de gestão do alerta de infeção humana por vírus Monkeypox (VMPX), da Direção-Geral da Saúde (DGS), com contributos de peritos de várias áreas.
O artigo "Ongoing monkeypox virus outbreak, Portugal, 29 April to 23 May 2022" foi publicado no 'Europe’s journal on infectious disease surveillance, epidemiology, prevention and control' e agrega os resultados preliminares da investigação num país onde a doença não é endémica.
Para concluir este documento, foram realizadas entrevistas presenciais e telefónicas, "utilizando formulários padronizados de investigação de casos", sendo que foram obtidas informações "aprofundadas sobre um subconjunto de 27 casos confirmados".
Segundo o relatório, "todos os casos eram do sexo masculino". Durante o período de 21 dias antes do início dos sintomas, a maioria dos casos (14/16 com dados disponíveis) "relatou ter tido relações sexuais com múltiplos parceiros". Segundo este estudo, até 27 de maio, apenas um caso terá estado em contacto com alguém com sintomas e todos os outros parecem ser casos independentes de infeção.
"Dos 27 casos, seis relataram a frequência de uma sauna na região LVT, um caso relatou a frequência de uma sauna no Reino Unido e quatro casos relataram viagens ao estrangeiro. Três tiveram contacto com animais (dois casos com gatos e um caso com porcos", pode ler-se.
Metade dos infetados com infeção por HIV
Os casos residiam principalmente na região de saúde de Lisboa e Vale do Tejo tendo um ocorrido também na Região Norte e outro no Algarve. As idades variaram entre 22 e 51 anos, com a maioria a ter entre 30 e 39 anos.
14 pessoas - quase metade dos casos em estudo - são pessoas com o sistema imunitário comprometido pelo facto terem infeção por HIV.
Os sintomas mais comuns foram exantema, linfadenopatia inguinal, febre, e úlceras genitais. Três casos necessitaram de hospitalização devido ao seu estado clínico, dos quais dois tiveram alta desde então.
Durante a data em que se realizou o estudo, houve 145 casos suspeitos (133 homens e 12 mulheres) de infeção.
O relatório revela ainda que as autoridades de saúde pública portuguesas envolveram-se com a comunidade LGBTQI+ - particularmente os líderes comunitários - "na comunicação de risco e mobilização social da comunidade após os primeiros casos, para assegurar que a informação sobre os sinais e sintomas da infecção e a forma de reduzir a transmissão fosse prontamente partilhada".
Leia Também: Sobe para 153 o número de casos do vírus Monkeypox em Portugal