O ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, considerou esta segunda-feira que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está a utilizar a "fome" como um "instrumento" para "aumentar a sua pressão" sobre o Ocidente, num contexto que fica marcado pela guerra no leste europeu.
"A Rússia está a utilizar a fome em outras partes do mundo como forma de aumentar a sua pressão. É um instrumento de guerra contra a Ucrânia. E está, em simultâneo, a procurar desenvolver uma narrativa que associa, erroneamente, as sanções ocidentais ao impacto sobre a segurança alimentar mundial", explicou o governante.
O ministro acrescentou ainda que, a este propósito, o que "faz parte do plano de ação da União Europeia é uma contra-narrativa que demonstra, de forma absolutamente meticulosa, que as consequências sobre a segurança alimentar do resto do mundo são resultado exclusivo das ações da Rússia". Tal "não tem a ver com sanções, até porque as sanções excecionam a possibilidade de escoamento de produtos agrícolas", garantiu ainda.
As declarações foram proferidas no Luxemburgo, onde João Gomes Cravinho se encontra hoje a reunir com os seus homólogos europeus. Em causa está um encontro que pretende debater os mecanismos a que a União Europeia pode recorrer para libertar os milhões de toneladas de cereais que estão atualmente retidos na Ucrânia, como consequência do bloqueio efetuado pelas tropas de Moscovo aos portos nacionais.
Abordando o que tem vindo a ser discutido a este nível, ao longo desta segunda-feira, pelos ministros responsáveis pela pasta dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, João Gomes Cravinho indicou que existem "várias linhas de ação que estão a ser desenvolvidas" para um eventual escoamento desses cereais. Por um lado, as "negociações para o desbloqueio marítimo estão a ser lideradas pelas Nações Unidas (ONU), que estão em diálogo com a Rússia e com a Turquia para ver se é possível, através do porto de Odessa, retirar cereais", apontou.
Mas existe ainda um outro plano, por via terreste, como explica o ministro português. "Por terra, há um plano de ação por parte da União Europeia, que tem aqui a desvantagem de tratar de volumes mais pequenos. É mais difícil escoar por terra e por comboio, mas é o possível nesta fase", salientou.
Questionado acerca das quantidades de cereais passíveis de serem transportadas por essa segunda via, João Gomes Cravinho disse que o bloco europeu ainda não tinha feito "esses cálculos", pois tal "depende de um conjunto de fatores" - entre os quais um "problema técnico", que tem a ver com os "diferentes tamanhos das linhas ferroviárias entre a Polónia e a Ucrânia", explicou.
Recorde-se que a Ucrânia é um dos principais fornecedores de trigo a nível mundial, embora os seus carregamentos de cereais tenham estagnado e mais de 20 milhões de toneladas tenham ficado retidas em silos desde que a Rússia invadiu o país e bloqueou os seus portos. Com o bloqueio do Mar Negro aos navios ucranianos, a Rússia está a impedir as exportações a partir dos portos da Ucrânia, o que está a provocar receios de uma crise alimentar global.
Leia Também: Conselheiro do Kremlin em Lisboa? "Não há nenhum diálogo com a Rússia"