A equipa integra as antropólogas forenses Eugénia Cunha e Inês Santos e é liderada por Duarte Nuno Vieira, ex-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, sendo acompanhada igualmente de um especialista da Polícia Judiciária.
O objetivo é individualizar os corpos encontrados numa vala comum, a cerca de 20 quilómetro de Luanda, para posterior identificação através da confrontação com o material genético dos familiares, disse à Lusa Duarte Nuno Vieira, que espera juntar-se à missão nos próximos dias, depois de testar positivo à covid-19.
Entre estes, poderão estar os corpos de Sita Valles e José Van Dunem, um jovem casal de dirigentes do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que estariam envolvidos no suposto golpe de Estado de 27 de maio de 1977, e que foram mortos na repressão que se seguiu.
A individualização e identificação dos restos mortais poderá proporcionar informações sobre as circunstâncias em que ocorreram as suas mortes, indicando patologias e eventuais lesões, acrescentou o especialista.
Para já, não há certezas sobre o número de corpos, admitindo-se que poderão ser mais do que dez.
As ossadas já foram recolhidas e encontram-se em instalações forenses onde serão colhidas as amostras para a tipagem de ADN, depois de serem estudados os ossos para individualizar os corpos.
Serão recolhidas três amostras por corpo, uma para ser processada em Angola, outra em Portugal e outra que servirá de controlo.
Sem querer avançar uma data para a conclusão dos trabalhos, Duarte Nuno Vieira declarou que os resultados serão apresentados "com a maior celeridade possível"
"Não é possível adiantar uma data, é um processo que demora o seu tempo. Pode correr tudo bem à primeira ou pode haver contaminação e ser necessário repetir as análises", apontou o médico.
A vala comum, na zona dos Ramiros, foi visitada no início do mês pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, que falou sobre a pretensão do executivo em transformar o sítio num lugar de homenagem "àqueles que pereceram e foram enterrados de forma tão trágica".
Citado pelo Jornal de Angola, o também coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), fase II, referiu que o local será entregue às autoridades do Governo Provincial de Luanda e da Administração Local para tratamento adequado.
Francisco Queiroz reconheceu que os conflitos do 27 de Maio foram um acontecimento trágico que não se pretende que volte acontecer nunca mais: "Mas era necessário termos esse momento que tem o seu caráter sensível e forte".
Foram identificadas nesta vala as ossadas de Alves Bernardo Baptista (Nito Alves), Jacob João Caetano (Monstro Imortal), Arsénio José Lourenço Mesquita (Sianouk) e Ilídio Ramalhete Gonçalves, entretanto entregues às famílias e sepultados no Cemitério Alto das Cruzes.
Durante a sua estada em Luanda, a equipa portuguesa, além do trabalho conjunto com os médicos-forenses do Laboratório Central de Criminalística, manterá um encontro de trabalho com a CIVICOP.
Em 27 de maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparentemente liderada por Nito Alves --- então ex-ministro da Administração Interna desde a independência, em 11 de novembro de 1975, até outubro de 1976 --- foi violentamente reprimida pelo regime de António Agostinho Neto, o primeiro Presidente da Angola independente.
Num ajuste de contas entre dirigentes do MPLA, que governa Angola desde a independência do país, e com a ajuda de tropas cubanas, o regime deteve e matou milhares de pessoas, cujo total ainda se desconhece.
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