"Liberdade tem custo". Abrunhosa e "triste espetáculo" da Embaixada russa
Perante a ação da Embaixada da Rússia em Portugal face ao cantor Pedro Abrunhosa, o antigo líder do PSD considerou ser necessário recordar, sobretudo junto dos mais jovens, "que viveram sempre em liberdade e em democracia, [que] a liberdade e a democracia têm um custo".
© Global Imagens
País Luís Marques Mendes
Luís Marques Mendes juntou-se ao coro de vozes que condenaram o comunicado da Embaixada da Rússia em Portugal contra o cantor Pedro Abrunhosa, naquilo que classificou de “inqualificável”.
“É inqualificável no plano dos princípios. Estes senhores estão mal habituados. Estão habituados à censura, à ditadura. Alguém bate o pé, vai para a cadeia. Alguém discorda, é detido. Mas alguém tem de lhes explicar que isto é Portugal, e em Portugal há liberdade e democracia. Uma pessoa concorda, discorda, respeita”, começou por apontar, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias.
O antigo líder do Partido Social Democrata (PSD) referiu ainda que a ação do organismo “é intolerável também no plano dos comportamentos”, considerando que, mesmo gostando, ou não, dos conteúdos do cantor, “não têm o direito de ameaçar, de tentar condicionar”.
“Nunca vi um Governo em Portugal a dizer qualquer coisa de parecido com o que diz a Embaixada da Rússia. Ou seja, em Portugal respeita-se”, reiterou, lembrando que Pedro Abrunhosa é, em grande medida, também um músico de intervenção, com temas “críticos, delicados, polémicos”, que vão desde o Cavaquismo, à troika, e até mesmo à intervenção no Iraque.
Nessa linha, Marques Mendes condenou o “triste espetáculo” daquele organismo governamental, considerando ser necessário recordar, sobretudo junto dos mais jovens, “que viveram sempre em liberdade e em democracia, [que] a liberdade e a democracia têm um custo”.
“Pensamos que é um dado adquirido; não é. É preciso lutar sempre pela liberdade, para a manter, para a defender e, às vezes, é preciso fazer alguns sacrifícios. O problema é que se aqueles que contestam a liberdade vencerem, tudo vai ser muito mais difícil e pior no futuro. Acho que Pedro Abrunhosa prestou um grande serviço”, rematou.
Recorde-se que, num concerto em Águeda, antes de interpretar o tema ‘Talvez F*der’, no qual aborda questões como a guerra, a fome, e o fascismo, o músico mencionou o conflito na Ucrânia, cantando “Vladimir Putin, go f*** yourself”, que em português significa “Vladimir Putin, vai-te lixar”.
Para a Embaixada da Rússia em Portugal, os “gritos vergonhosos” do cantor enquadraram-se “em mais do que um artigo da legislação penal portuguesa”, salientando, em comunicado, ter informado “os órgãos competentes de aplicação da lei”.
Por seu turno, o Ministério dos Negócios Estrangeiros repudiou o "tom e conteúdo" do comunicado do organismo, e defendeu a liberdade de expressão como "inalienável", segundo adiantou a agência Lusa.
Antes disso, Pedro Abrunhosa e a agência que o representa, Sons em Trânsito, pediram um "posicionamento do Governo português" em relação à "intimidação" que o artista diz ter sofrido por parte da entidade, tendo este realçado, em declarações à TVI, que a sua voz "é a voz dos portugueses".
"Este comunicado é, em todos os títulos, absolutamente abjeto. Esperava que a Embaixada se preocupasse com os civis que estão a morrer”, apontou, considerando existir o “exercício de uma tentativa de censura perante a comunidade artística, da qual sou representante, e os cidadãos portugueses”.
O apoio de Pedro Abrunhosa para com a Ucrânia remonta ao primeiro dia da invasão, a 24 de fevereiro, tendo o cantor recorrido à rede social Instagram para partilhar uma imagem da bandeira do país com a descrição “hoje somos todos ainda mais ucranianos”.
Já em março, dedicou o tema ‘Que o amor te salve desta noite escura’ à resistência e à coragem dos cidadãos ucranianos.
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