Uma semana depois de ter criticado o Patriarcado de Lisboa por dar uma "explicação tardia" sobre o caso de abuso sexual que não foi denunciado às autoridades, Luís Marques Mendes elogiou este domingo D. Manuel Clemente, considerando-o "uma pessoa de caráter" por colocar o cargo à disposição e antecipar a sua resignação.
No seu habitual espaço de comentário na SIC, o antigo líder do PSD comentou a notícia avançada no sábado pelo Nascer do Sol, que avançou que o cardeal-patriarca de Lisboa reuniu-se com o Papa Francisco e colocou o seu lugar à disposição, em resposta às notícias sobre o encobrimento de casos de abuso sexual de menores na Igreja Católica Portuguesa.
Marques Mendes considera que o cenário de demissão de D. Manuel Clemente, não estando confirmada, "não é impossível, porque toda a situação é muito dura, seguramente, para o cardeal-patriarca". No entanto, se este pediu efetivamente a demissão, "não há motivo para críticas, e só pode haver elogios".
"Isso prova que assume responsabilidades e que é uma pessoa de caráter, e não faz como na política fazem muitas vezes ministros, que é, perante uma dificuldade e um problema, agarrarem-se aos lugares", afirmou o político.
Sobre a reunião com o Papa em si, o comentador acrescenta que "se o Papa recebeu o cardeal-patriarca por causa desta matéria, isto significa que a situação é grave". "Em matéria de abusos sexuais, tivemos nestas últimas duas semanas conhecimento de vários casos, de casos graves, de casos mal resolvidos e mal explicados. Esta reunião é prova que a situação é mesmo grave", declarou.
Verdade e transparência "dão autoridade moral à Igreja"
Marques Mendes considerou que as últimas duas semanas "foram muito más, muito negativas, para a imagem da Igreja Católica". De recordar que, além da notícia do Observador sobre um caso de abuso sexual encoberto pelo Patriarcado de Lisboa, com o conhecimento de D. Manuel Clemente e do seu antecessor, D. José Policarpo, também foi noticiado pelo Expresso na passada sexta-feira que o bispo da Guarda, Manuel Felício, e o bispo emérito de Setúbal, Gilberto Reis, também terão escondido queixas de abusos sexuais por padres das autoridades policiais.
O antigo ministro social-democrata, dos governos de Durão Barroso e Cavaco Silva, apontou que a Igreja Católica Portuguesa "só tem um caminho para inverter esta situação e voltar a ganhar credibilidade e autoridade: esse caminho implica não esconder nada, não desvalorizar a situação e incentivar a investigação".
"Acho que a Igreja faz bem se seguir com firmeza e prontidão as orientações do Papa Francisco, que recomendou verdade e transparência. Alguns padres e bispos podem torcer o nariz, mas o Papa Francisco tem toda a razão do mundo: só a verdade e só a transparência dão autoridade moral à Igreja e a todos os que a representam", procurou explicar o comentador.
Referindo também que "um único caso de abuso sexual de menores já é muito, porque é um crime absolutamente revoltante, repugnante", e que um caso impune "contamina toda a imagem da instituição", Marques Mendes salientou que, por todos esses motivos, a Comissão Independente que está a investigar os casos "é o grande instrumento para que a Igreja ultrapasse estes momentos mais difíceis".
Finalmente, aproveitando o facto da Jornada Mundial da Juventude de 2023 se realizar em Lisboa e Loures, o político mostrou-se confiante que, quando o evento arrancar no dia 1 de agosto do próximo ano, a Igreja Católica Portuguesa "apresentar-se-á com prestígio se tiver esta atitude de 'quem deve, não teme'".
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