Sérgio Figueiredo vai, afinal, receber mais do que tinha sido inicialmente avançado. De acordo com a RTP, o antigo diretor de Informação da TVI vai auferir um salário bruto de 5.800 euros. Ao longo dos dois anos do contrato como consultor do ministro das Finanças, Fernando Medina, irá receber uma soma perto dos 140 mil euros.
Figueiredo fica "impedido de exercer outras atividades que possam representar um conflito de interesses" com aquelas que irá manter no Terreiro do Paço.
De recordar que, esta terça-feira, o Público noticiou que o ministério das Finanças contratou o antigo diretor de informação da TVI e ex-administrador da Fundação EDP, Sérgio Figueiredo, como consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas.
Segundo o jornal, o contrato em questão é por ajuste direto e Sérgio Figueiredo irá auferir um ordenado ilíquido equivalente ao vencimento mensal de um ministro, correspondendo a 4.767 euros. Sérgio Figueiredo terá começado a desempenhar as suas funções a 29 de julho.
Ao Público, o ministério tutelado por Fernando Medina confirmou a contratação de Sérgio Figueiredo, afirmando que o antigo jornalista irá "prestar serviços de consultoria no desenho, implementação e acompanhamento de políticas públicas, incluindo a auscultação de partes interessadas na economia portuguesa e a avaliação e monitorização dessas mesmas políticas".
O Público avança ainda que o contrato de Sérgio Figueiredo terá uma duração de dois anos e o antigo jornalista irá "ajudar a conceber e desenhar as políticas públicas do ministério de Fernando Medina, mas também monitorizar a sua execução e a perceção, em tempo real, que têm delas as partes interessadas".
"Medina vai pagar uma avença ao amigo que já lha pagou na TVI"
As críticas dos partidos não se fizeram esperar. E houve enfoque no facto de Fernando Medina ter sido comentador do canal televisivo TVI24 e, depois, CNN Portugal, entre 2015 e 2022, coincidindo com o período em que Sérgio Figueiredo foi diretor de informação do canal televisivo (2015-2020).
O presidente do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, foi uma das personalidades políticas que se mostrou contra esta contratação. Numa publicação no Twitter, o bloquista classifica a contratação como "absolutamente criticável" e "um exemplo do pântano das maiorias absolutas".
O deputado considera ainda que "Medina vai pagar uma avença ao amigo que já lha pagou na TVI" e acrescentou que "as escolhas públicas não podem estar reféns de redes de amigos ou do pagamentos de favores".
A contratação de Sérgio Figueiredo é absolutamente criticável: Medina vai pagar uma avença ao amigo que já lha pagou na TVI.
— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) August 9, 2022
As escolhas públicas não podem estar reféns de redes de amigos ou do pagamentos de favores.
Mais um exemplo do pântano das maiorias absolutas (1/2)
Já o dirigente comunista Bernardino Soares aponta que a contratação foi feita com "critérios certamente discutíveis". "É uma opção do Governo com critérios certamente discutíveis", afirmou Bernardino Soares em conferência de imprensa na sede nacional do PCP, em Lisboa.
Por sua vez, o Chega deu, esta terça-feira, entrada na Assembleia da República de um requerimento para ouvir o ministro das Finanças, Fernando Medina, sobre a contratação para a sua tutela do ex-diretor de informação da TVI Sérgio Figueiredo.
"É evidente para todos que há aqui uma questão de tem que ser explicada do ponto de vista da transparência, sobretudo da transparência política e do ponto de vista da transparência da relação do Governo com a imprensa em geral", defendeu o presidente do Chega, André Ventura, numa conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa.
Também a presidente da organização não-governamental Transparência Internacional Portugal, Susana Coroado, se manifestou sobre o tema, afirmando que vê a contratação de Sérgio Figueiredo pelo Ministério das Finanças com "indignação", considerando que corresponde a "um padrão de patronagem política".
"Por um lado, vemos com indignação, porque há várias dimensões graves nesta nomeação que, na realidade, legalmente, é uma contratação, mas, por outro lado, não nos surpreende porque corresponde a um padrão de patronagem política e de nomeação de amigos e de troca de favores que vem a acontecer há vários anos em Portugal", disse Susana Coroado à Lusa, por telefone.
Nascido em 1966, Sérgio Figueiredo já foi diretor do Diário Económico e do Jornal de Negócios, tendo também trabalhado para o canal televisivo RTP2. Entre 2007 e 2014 foi diretor da Fundação EDP e, entre 2015 e 2020, foi diretor de informação da TVI.
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