Morte de grávida: "Foi totalmente inesperado", diz Hospital de Sta. Maria

Gestante de 31 semanas não falava nem inglês nem português. Comunicação não foi fácil, indica médica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

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© CARLOS COSTA/AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto
30/08/2022 10:17 ‧ 30/08/2022 por Notícias ao Minuto

País

Hospital de Santa Maria

Luís Pinheiro, diretor clínico do Hospital de Santa Maria, prestou, esta terça-feira, declarações à CNN Portugal a propósito do caso da grávida que morreu no Hospital São Francisco Xavier após transferência do Santa Maria.

O diretor clínico começou por lamentar a morte da mulher, deixando, também, uma nota de agradecimento a todos os profissionais que têm feito de tudo para assegurar os cuidados dos doentes, apesar do momento complicado que o setor da saúde vive, passando depois a palavra a Luísa Pinto, médica da unidade.

"Tratava-se de uma grávida de 34 anos, de uma primeira gravidez de 31 semanas", começa por descrever a clínica acrescentando que a mesma não era "oriunda de Portugal". 

Sublinhe-se que o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) confirmou, num comunicado enviado ao Notícias ao Minuto, que a paciente era de "nacionalidade indiana, residente na Índia e recém-chegada a Portugal, sem dados de vigilância da gravidez". 

"Não sabemos qual era a condição clínica basal desta grávida que não falava inglês nem português, o marido fazia-se entender, mas não foi fácil, portanto, nós não conhecemos o historial clínico desta mulher", detalha Luísa Pinto. 

“[Esta mulher] Recorre ao nosso serviço de urgência na madrugada de dia 23 de agosto por sensação de falta de ar e taquicardia. Constatou-se uma tensão arterial elevada pelo que foi, de imediato, internada",  continuou. 

A estabilidade da gestante levou à decisão de transferência da mulher, por não existir vaga para o bebé após nascença. A médica sublinha que este não é caso isolado, e faz parte do funcionamento em rede das unidades hospitalares. 

"No decurso do transporte verificou-se algo que não era, de todo, expectável que foi uma paragem cardiorrespiratória", explica Luísa Pinto.

Já no Hospital São Francisco Xavier foi efetuada uma cesariana de emergência, que resultou no nascimento do bebé, que se "encontra bem", mas no desfecho trágico da morte da mulher. 

Ressalva ainda a médica que o caso nada teve a ver com as "contingências" nos hospitais, nomeadamente, na obstetrícia, tal como já tinha sido referido anteriormente. 

André Graça, diretor de neonatologia, indicou que a decisão foi tomada para o bem do bebé, sem que houvesse qualquer indício para o desfecho que teria. "Semanalmente, ou a cada duas semanas, temos picos de internamento que nos impedem de dar resposta em permanência a todas as situações e, portanto, temos de fazer quase diariamente esta gestão (...) e tentar encontrar o melhor local para o bebé ser tratado, e isso e feito com grande frequência", explica o clínico. 

"Aquilo que está recomendado, e que foi feito, é procurar uma vaga para a mãe e bebé. (...) O que aconteceu foi totalmente inesperado", acrescenta indicando que este tipo de transferências, quando as grávidas se encontram estáveis, são feitas quase "semanalmente". 

André Graça insistiu ainda que em “determinados momentos de pico, não podemos multiplicar as vagas” e, segundo a avaliação clínica, “esta senhora tinha todas as condições para ser transferida”. 

“As vagas na rede são suficientes, não podemos pensar [nas vagas] no hospital isoladamente porque são situações em que precisávamos de ter mais 50% ou 60% das vagas”, acrescenta. 

Quanto à capacidade regional de resposta, o diretor de neonatologia frisa que “é suficiente neste momento”, mas requer este funcionamento em rede.

Luís Pinheiro frisa que “há uma lacuna” na forma de tratamento mediático do caso e que estas declarações têm como objetivo dar contexto clínico para “que se perceba e se saia do registo de empolamento mediático ou político que começou a ser feito”. 

Sublinha que a grávida não foi "aceite" mediante a ausência de vagas, mas sim, dirigiu-se ao Hospital de Santa Maria e "foi atendida" como é qualquer doente que ali se dirija. "Veio cá e foi atendida e foi tratada, foi vigiada e manteve-se em vigilância porque se verificou desde o primeiro momento que era necessário fazer essa transferência que só ocorreu quando se reuniram as condições clínicas",  frisou o diretor clínico da unidade. 

Recorde-se que a mulher de 34 anos morreu no sábado após sofrer uma paragem cardiorrespiratória durante uma transferência de ambulância do Hospital de Santa Maria para o Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa.

O bebé nasceu com 772 gramas, sendo encaminhado para "unidade de cuidados intensivos neonatais por prematuridade".

Leia Também: Morte de grávida "não tem nada a ver com contingências" nos hospitais

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