Ainda a maioria do país dormia e o rebuliço começava a desenhar-se perante a demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, prontamente aceite pelo primeiro-ministro, António Costa, ambas as decisões anunciadas durante a madrugada.
As reações não se fizeram esperar, desde o setor até aos partidos. A notícia da vontade de Temido de cessar funções não deixou ninguém indiferente, com muitos a defender que era um desfecho "expectável".
Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), foi dos primeiros a reagir, ainda às primeiras horas da manhã.
Para o secretário-geral do SIM, Marta Temido estava "dissociada" da realidade "nos últimos anos" e esse facto levou à 'queda livre' da saúde no país, e, consequentemente, à sua demissão.
"A ministra não tinha alternativas"
O bastonário da Ordem dos Médicos seguiu-se a Roque da Cunha, ainda o relógio não passava muito além das 8h00. Para Miguel Guimarães, a demissão da ministra "não resolve" o problema na Saúde, visto que a saída de Temido se deveu, principalmente, ao rumo que o Governo quis tomar. "A ministra não tinha alternativas", defendeu afirmando que esperar um sucessor "que faça acontecer".
O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Noel Carrilho, considerou que cessação de funções "não surpreende", mas destaca que agora chegou a hora de avançar e encontrar soluções para os problemas do setor.
A demissão que não surpreende é opinião partilhada pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) que considerou que "era expectável" face à falta de condições que Temido foi tendo para fazer mudanças necessárias no Serviço Nacional de Saúde.
Já a Ordem dos Farmacêuticos aponta para o futuro e espera que o novo ministro da Saúde adote uma postura de diálogo com os profissionais de saúde, doentes e representantes e defendeu uma estratégia clara para resolver problemas estruturais do Serviço Nacional de Saúde.
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, por outro lado, relativizou o impacto da demissão da ministra da Saúde, considerando que o principal problema do setor está nas "políticas que o governo decide implementar".
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No meio político, as reações foram surgindo em catadupa.
Começando pelo PS, foi feito um agradecimento à ministra e um elogio ao trabalho prestado durante a pandemia à frente da tutela da Saúde. Porfírio Silva considerou que a governante pertenceu aos "Governos do PS que inverteram o ciclo de desinvestimento" no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O Livre reagiu exigindo ao primeiro-ministro, António Costa, "sinais claros de apoio político a medidas estruturais de defesa do SNS" e ao ministro das Finanças, Fernando Medina, "garantias de que o próximo Orçamento Geral do Estado incluirá o necessário respaldo a essas medidas", para que o sucessor da governante não venha a ser um "gestor do declínio" do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para a oposição, mais importante do que saber quem será o novo ministro da Saúde, é saber o que fará Costa, nomeadamente se vai mudar o rumo em termos de políticas públicas para a Saúde. O PSD considera que a demissão é uma decisão "peca por tardia".
Já a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, alertou que não se devem continuar "a adiar as decisões fundamentais para garantir que o SNS funciona e garante o acesso à Saúde de toda a população e as melhores condições".
Virando o foco para o PAN, a porta-voz Inês Sousa Real afirma que a demissão não resolve "os problemas" do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Através de uma publicação divulgada no Twitter, Inês Sousa Real defendeu que, apesar de ser "expectável" que houvessem "consequências políticas", "é preciso investir" no SNS e nos "seus profissionais".
A Iniciativa Liberal exaltou que o primeiro-ministro deve explicações ao país sobre a demissão e defendeu que se Costa optar por uma solução de continuidade permanecerá como "o maior responsável pelo estado calamitoso do SNS".
Quanto ao PCP, a atual presidente do Grupo Parlamentar Paula Santos destacou que "mais do que os rostos do Governo, aquilo que é importante neste momento é a necessidade de avaliação das políticas".
André Ventura, líder do Chega, considerou que a demissão da ministra da Saúde era uma "situação evitável, não fosse a degradação da saúde e da situação política da ministra" e apontou responsabilidades a António Costa.
Em linha com a maiorias das opiniões está a posição do presidente do CDS-PP, Nuno Melo, que considerou que a demissão já se justificava "há muito", mas alertou, à semelhança do PAN ou do Bastonário da Ordem dos Médicos, que a mudança do titular da pasta não resolve os problemas estruturais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes.
Durante os seus mandatos, esteve no centro da gestão da pandemia, que começou em 2020, mas também atravessou várias polémicas.
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