Inflação? "É preciso atuar com urgência, mas com cuidado"

O responsável defendeu a adoção de medidas que não causem um "choque tão amplo que na sua duração possam ter custos que são excessivos".

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Daniela Filipe
03/09/2022 20:17 ‧ 03/09/2022 por Daniela Filipe

País

Marcelo Rebelo de Sousa

De visita à Feira do Livro de Lisboa, que decorre no Parque Eduardo VII, até ao dia 11 de setembro, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não deixou de ressalvar que é necessário “atuar com urgência” perante a inflação, defendendo, por isso, a “intervenção de choque” apresentada pelo novo pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias e à atividade das empresas, que deverá ser aprovado no Conselho de Ministros extraordinário de 5 de setembro.

Em declarações aos jornalistas, o chefe de Estado ecoou as palavras do governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, que, na quinta-feira, defendeu que não se adotem medidas pró-cíclicas. Assim, apontou que, por um lado, “há que ter uma intervenção de choque, para compensar a situação vivida nos últimos meses, e neste momento”, mas, por outro, “há que acompanhar a inflação” e a sua possível descida, a partir de outubro.

Nessa linha, o responsável indicou que “as medidas hão de ser tomadas com esse efeito de choque imediato, mas tendo presente [a possível descida a pique da inflação] a partir do final do ano”, situação em que teriam de “ser reajustadas”.

Há, neste momento, condições excecionais. O Produto Interno Bruto (PIB) está a crescer muito. A própria inflação dá receitas excecionais no Orçamento de Estado ao Estado. E, portanto, há um conjunto de condições que, por exemplo, para o ano podem não ser repetíveis. Tem de haver esse equilíbrio; atacar a situação naquilo em que é preciso atacar com urgência, ver a evolução da economia e da própria inflação, para ter a certeza de que é preciso ajustar mês a mês, permanentemente, as medidas e a execução das medidas à evolução da situação vivida”, esclareceu.

Perante esta conjetura, o Presidente da República repetiu, novamente, o “pensamento do governador do BdP”, que acredita que descer impostos de uma forma generalizada poderá ter custos não só para o Orçamento de Estado, mas também para a gestão das contas públicas, o “que faz com que seja preferível a adoção de outras medidas que sejam também muito eficazes, mas de efeitos não tão duradouros”.

É preciso atuar, é preciso atuar com urgência, mas com cuidado, por causa do acompanhamento da evolução económica”, resumiu.

Elencou, também, a possibilidade de apoios dirigidos a certos setores de atividade mais sensíveis ao aumento do preço da energia, aos setores mais carenciados, às famílias, e às classes médias, que não causem um “choque tão amplo que na sua duração possam ter custos que são excessivos”.

Ainda que as medidas pudessem ter sido tomadas “um bocadinho mais cedo”, Marcelo reconheceu que “por toda a Europa são anunciadas agora, mas não foram tomadas”, devido ao encerramento dos Parlamentos.

Frisou também que as medidas deveriam de ser aplicadas à classe média, afetada particularmente pelo aumento dos preços da energia e da inflação.

“Obviamente que a energia toca diretamente toda a gente, mas à classe média em particular. Outros custos da inflação atingem a classe média, reduzem a classe média, esvaziam a classe média. Em todos os países da Europa é uma preocupação”, disse.

Tocando nas ‘polémicas’ vividas pelo Governo, no poder há cinco meses, Marcelo escusou-se a tecer comentários, lançando apenas que “um Governo com maioria absoluta não quer dizer um Governo sem problemas”.

O Governo tem a maioria absoluta no parlamento mas, depois, existe a sociedade, e a sociedade tem problemas”, rematou, recordando que já houve "várias maiorias absolutas e o facto de haver maioria absoluta não significa que a sociedade não tenha problemas que se colocam, também, às maiorias absolutas para serem resolvidos".

Questionado sobre as declarações do coordenador da comissão de acompanhamento da resposta de urgência em obstetrícia, que considerou que a falta de especialistas nos hospitais públicos pode obrigar ao encerramento de maternidades, o chefe de Estado disse preferir "que houvesse uma visão global sobre a matéria, uma vez que, porventura, o que é preciso fazer são várias coisas ao mesmo tempo".

Além disso, considerou, por um lado, que é preciso introduzir alterações orgânicas e, por outro, olhar para o número e distribuição dos especialistas.

[Notícia atualizada às 21h37]

Leia Também: "Primeiros sinais de inflação" ocorreram em 2021 e razões foram "claras"

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