O agricultor Luís Dias, que está em greve de fome junto à residência oficial do primeiro-ministro, já teve alta hospitalar e voltou ao protesto, com a promessa de não desistir.
"Bem sei que se preocupam, mas não desisto, não posso", escreveu na rede social Twitter, onde partilhou o link para uma petição que reclama uma solução mediada para o diferendo que opõe o agricultor ao Governo.
Como sabem ontem fui novamente para o hospital. Já tive alta e voltei para o protesto. Bem sei q se preocupam, mas n desisto, n posso.
— Luis Dias (@LuisFDias72) October 6, 2022
Soube q puseram a correr a petição abaixo, q no fundo n é mais do q o acordado em janeiro. Obrigado a tds.
Bom dia 29https://t.co/0mj6IosKYc
Luís Dias foi hospitalizado ontem, depois de já ter estado internado na semana passada, no hospital de São José, em Lisboa, tendo depois regressado ao local do protesto, na sexta-feira, num jardim junto à residência oficial de António Costa, onde se encontra numa tenda há 29 dias.
Também na rede social Twitter, o ex-presidente da Associação Transparência e Integridade reforçou que tudo o que Luís Dias pede é que "o Governo inicie a mediação que reiteradamente prometeu, com base nos factos do caso, documentados e que ninguém disputa".
Honrar a palavra é pedir muito?", questionou João Paulo Batalha.
Na quinta-feira passada, o deputado único do Livre, Rui Tavares, questionou no Parlamento o primeiro-ministro, António Costa, sobre o tema, tendo obtido como resposta que Costa tem mantido contacto com Luís Dias "várias vezes ao longo dos anos em que tem estado em manifestações", no entanto, afirmou que o Governo "não tem nada a fazer para responder a essa situação".
Perante o protesto de algumas bancadas, o primeiro-ministro respondeu: "O senhor não tem razão, não há nada a fazer, é muito simples", disse.
Quando esteve em greve de fome em frente ao Palácio de Belém, um protesto que durou cerca de 30 dias e terminou a 6 de junho de 2021, após receber a visita de apoiantes e de falar com o Presidente da República, o agricultor, de 49 anos, disse que se encontrava em greve "contra a indiferença destrutiva do Estado", que alega ter prejudicado o seu projeto agrícola.
A história de Luís Dias, segundo relatou o jornal Público na altura, remonta a 2015, quando apresentou, junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), uma candidatura para ajudas financeiras para avançar com uma exploração de amoras na Quinta da Zebreira, em Castelo Branco.
A candidatura viria a ser recusada por, segundo o DRAPC, não existirem garantias bancárias.
O agricultor viria a recorrer ao Tribunal de Contas Europeu, que lhe deu razão, afirmando que as garantias bancárias não lhe podiam ser exigidas.
Em 2017, após o mau tempo ter destruído a sua exploração, voltou a pedir ajuda à DRAPC e verbas para compensar os prejuízos pela intempérie, mas o apoio voltou a ser recusado.
Dois anos depois, Luís Dias recorreu à provedora de Justiça e, nessa altura, o Ministério da Agricultura considerou, num despacho, que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca efetuou qualquer pagamento.
Em janeiro deste ano, Luís Dias anunciou que iria voltar a fazer greve de fome, acusando o Governo de "extrema má-fé", após ter sido recebido pelo Ministério da Agricultura.
"O boicote e a prepotência reiterada do Estado tiraram-me tudo. A única coisa que me resta, para além da razão que o Estado reconhece, mas não repara, é a minha dignidade. Não vou ceder. [...] Se quiser discutir isto comigo e por fim repor a justiça que está inteiramente nas suas mãos, estarei acampado em greve de fome à porta da sua residência, a partir da próxima sexta-feira", afirmava numa carta aberta, enviada na altura ao primeiro-ministro, à qual a Lusa teve acesso.
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