O bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, defendeu-se, na tarde desta quarta-feira, numa conferência de imprensa das acusações de encobrimento de abusos sexuais na Igreja Portuguesa, garantindo que foram tomadas as medidas consideradas "apropriadas" para a altura em que surgiram os casos.
No Santuário de Fátima, D. José Ornelas admitiu que "os dois casos têm estado a lume bastante aceso nestes dias", referindo especificamente o caso de um padre num orfanato em Moçambique em 2011, dirigido por um padre dehoniano, sendo D. José Ornelas o representante dos dehonianos junto do Vaticano e líder mundial desta congregação, e a um caso de abuso de um padre em Fafe, que data de 2003.
O bispo, que preside à Conferência Episcopal Portuguesa, realça que os dois casos foram arquivados e garante que foram tomadas as medidas adequadas, tanto ao nível da justiça como ao nível da Igreja.
"Fui também objeto de tratamento processual dentro da Igreja, dentro dos princípios canónicos, e também aí foram tomadas as medidas julgadas apropriadas nessa altura", afirmou.
Sobre a investigação do Ministério Público, sobre o alegado encobrimento dos casos de abuso sexual na Igreja, D. José Ornelas reiterou que está "tranquilo".
"Se fosse hoje, talvez fizesse as coisas com o conhecimento que tenho hoje, mas foram as medidas que foram adequadas. Não houve manobra de encobrimento, houve sim o tratar as coisas dentro daquilo que era possível", reforçou.
Sobre os comentários do Presidente da República, que passou a noite de terça-feira a desculpar-se por declarações em que desvalorizou as mais de 400 denúncias de abuso sexual feitas contra membros da Igreja, o bispo recusou comentar o que disse Marcelo Rebelo de Sousa, mas salientou que "qualquer número é sempre demasiado e a gente trabalha para terminar com eles".
D. José Ornelas pediu ainda que "se alguém tem algo para dizer, que o faça" o quanto antes, já que a Comissão termina a recolha de testemunhos e denúncias para fins estatísticos no final deste mês.
"Para este estudo, é bom que se tenha a colaboração de todos. Evidentemente que, para mim, é um grande número mas, e sobretudo porque denota também que faz ver que há outros por trás, é importante fazer este trabalho", disse.
O Ministério Público abriu 10 inquéritos a partir das 17 denúncias anónimas reportadas pela Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal. A investigação independente continua para apurar e clarificar casos que possam ter existido no seio da Igreja Católica.
Pode consultar o site da comissão e encontrar informações sobre como apresentar denúncias aqui.
[Notícia atualizada às 16h37]
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