"Está aquém do desejado, sobretudo nalgumas das componentes que eram as de controlo das [plantas] invasoras, que é um problema muito importante e uma preocupação muito grande daquela mata", disse à agência Lusa Francisco Castro Rego.
O OTI, criado em agosto de 2018, para análise e acompanhamento dos incêndios florestais que ocorreram em território nacional, foi extinto em julho de 2021.
Esta entidade, criada pela Assembleia da República, elaborou o estudo técnico para a recuperação da Mata Nacional de Leiria (MNL) após os incêndios de outubro de 2017, divulgado três anos após estes fogos.
Francisco Castro Rego, professor catedrático aposentado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, referiu que "a natureza tem horror ao vazio".
"Os programas de remoção das infestantes, neste caso das acácias, têm sido só remover, não têm sido substituir e, portanto, são muitas vezes votados ao insucesso, exatamente porque a natureza tem horror ao vazio e as infestantes voltam a invadir os mesmos locais. Aquilo que era necessário era, ao fazer controlo de infestantes, fazer já a plantação das espécies", defendeu, considerando que a sua eliminação é a maior urgência do MNL.
O investigador remeteu para o estudo técnico sobre a MNL, para confirmar que, em muitos casos, "o tipo de intervenção não foi o mais adequado".
Referindo que a regeneração "foi muito desigual", o investigador observou que "houve, durante bastante tempo, a indicação pelo ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas] de que estariam à espera que o pinhal regenerasse", mas "estiveram à espera demais", porque aquele regenera ou no primeiro ano após o fogo ou, ainda que de forma residual, no segundo ano.
"Essa espera teve também como consequência que, em muitas zonas, as espécies invasoras tiveram oportunidade de se desenvolver sem ter a competição do próprio pinhal", declarou.
Francisco Castro Rego reiterou a necessidade de se rever a governança da MNL, também conhecida por Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei, como indicou o estudo técnico.
"O ICNF não tem os recursos técnicos e financeiros e a proximidade que é necessária para os trabalhos todos que se realizam na mata. Seria muito aconselhável que as intervenções se fizessem com recurso a outras entidades, Câmara Municipal, sobretudo da Marinha Grande, e também as entidades de cariz científico e ONG [organizações não-governamentais] do ambiente, que também se mobilizam para aquele efeito e que são muito pouco tidas em conta quando se procuram as soluções", declarou.
Para o docente, esta situação "compromete a qualidade das soluções, por um lado, e, por outro lado, também a proximidade e o envolvimento social que é necessário para que o Pinhal de Leiria tenha uma envolvente e um carinho humano que sempre teve e que, de algum modo, se esbate, quando há uma governança que é muito monolítica e pouco participativa".
Francisco Castro Rego lamentou ainda o estado do processo de instalação do Museu da Floresta, na Marinha Grande, em lei desde 1999, classificando como "uma vergonha nacional" e "mais um sintoma da pouca participação e da falta de uma governança participada".
Considerando que diversificar as espécies da MNL é uma "ideia correta", o ex-presidente do OTI frisou que é de manter, "do ponto de vista simbólico, económico, ecológico, o Pinhal de Leiria como pinhal".
"Eu diria, a predominância de pinheiro-bravo e pinheiro-manso" e depois plantar outras espécies, como o sobreiro ou o medronheiro", notou, mas "não descaracterizando" a MNL que, no seu entender, "é um pouco como o Mosteiro dos Jerónimos da nossa floresta", recuando ao tempo dos Descobrimentos para destacar o papel que aquela área teve à época.
O investigador acrescentou que "todo o trabalho feito pelo Observatório tem sido muito pouco utilizado pelas entidades governamentais, neste caso o ICNF e a AGIF [Agência para a Gestão Integrada de Fogos], tanto este relatório como outros", sustentando que o exemplo das recomendações do OTI em relação ao Pinhal de Leiria é "paradigmático".
Ainda assim, mostrou-se esperançado de que, "com o novo elenco ministerial [Ambiente e Administração Interna], o trabalho feito pelo OTI seja mais valorizado".
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