Colocando a segunda volta das eleições brasileiras em análise, Francisco Louçã, fundador e antigo dirigente do Bloco de Esquerda, considerou, esta sexta-feira, que a polarização entre os grupos religiosos do país está a transformar o sufrágio num “conflito religioso”, uma vez que Jair Bolsonaro (PL) procura recuperar votos no seio dos evangélicos.
Ainda que no conjunto do voto nacional as sondagens continuem a dar a vitória a Lula da Silva (PT), com 52%, face aos 48% do atual presidente brasileiro, Louçã destacou, no seu espaço de comentário na SIC Notícias, que “a tendência tem-se aproximado”.
“Lula chegou ao nível que esperava, Bolsonaro cresceu. A diferença não é muito maior do que o erro técnico possível de uma sondagem, embora estes lugares estejam consolidados”, apontou.
Olhando para as razões que explicam estes (possíveis) resultados, o bloquista usou as intenções de voto dos jovens, que dão 51% a Lula e 43% a Bolsonaro, assim como das mulheres, que brindam o candidato do PT com 51%, e o candidato do PL com 42%. Por sua vez, 57% daqueles que têm até dois salários mínimos votam em Lula, enquanto 37% votam em Bolsonaro. O inverso acontece nas faixas mais abastadas, com 40% a eleger Lula, e 52% Bolsonaro.
Assim, é possível concluir que “os pobres votam muito mais em Lula, e os ricos ou a grande classe média brasileira vota mais em Bolsonaro”.
Na mesma linha, Bolsonaro tem mais votos entre a população branca do que Lula (42% contra 51%), embora a população brasileira seja maioritariamente negra. Entre os negros, por seu turno, Lula recupera a vantagem, com 59% face aos 34% de Bolsonaro, o que, na ótica de Louçã, “confere com os mais pobres e os menos pobres”.
Contudo, é na religião que tem havido maior diferença. Se os católicos dão 57% a Lula e 37% a Bolsonaro, apenas 31% dos evangélicos vota em Lula, contra 65% que deposita a confiança em Bolsonaro.
“Há uma polarização eleitoral muito grande que tem crescido, e é onde Bolsonaro tenta recuperar o voto das mulheres, que desconfiam dele pela gestão da Covid-19”, entre outras questões, explicou o comentador.
A seu ver, esta discrepância “é muito grave, porque vai transformando a eleição brasileira numa eleição de conflito religioso”.
“Isto é uma transformação do padrão da democracia. A crença religiosa é natural, é respeitável. Quando isso se transforma num argumento político, é muito difícil voltar um padrão de conversa”, disse.
Recorde-se que, após uma noite de eleições renhida, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro vão disputar a segunda volta das eleições presidenciais, a 30 de outubro, uma vez que nenhum dos dois atingiu os 50%. Ainda assim, com 99,99% das secções eleitorais apuradas, Lula da Silva tinha 48,43% dos votos, saiu vitorioso contra os 43,2% de Jair Bolsonaro.
Em terceiro lugar, com 4,16% dos votos, ficou a candidata Simone Tebet, enquanto o candidato Ciro Gomes foi o quarto mais votado, com 3,04%.
Mais de 156 milhões de eleitores brasileiros foram chamados às secções de voto, onde estavam instaladas 577.125 urnas eletrónicas, espalhadas por 5.570 cidades do país.
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