"Estamos a ver com apreensão a entrada de jovens sem habilitações, e ouvimos o Presidente dizer que estão a tentar estancar, em Díli, esta imigração ilegal", disse José Eduardo Carvalho, à margem da reunião empresarial na sede da AIP, em Lisboa, com a presença do Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta.
"A sociedade civil tem obrigação de estabelecer um conjunto de iniciativas e articular um plano com a embaixada para mitigar os efeitos nefastos desta situação", defendeu o industrial, acrescentando: "Vamos discutir com a embaixada e alertar a sociedade civil para conseguirmos cursos de português e de formação profissional para dar habilitações e aptidões mínimas para trabalho indiferenciado e faremos um grande esforço de sensibilização junto das empresas para propiciar o seu recrutamento".
Para José Eduardo Carvalho, "da parte da embaixada há recetividade, e da parte do Governo e do Instituto de Emprego e Formação Profissional haverá também certamente".
A questão dos imigrantes timorenses que chegam a Portugal atraídos por melhores condições de vida mas sem garantia de emprego ou de alojamento é um dos temas que tem estado em destaque na visita de Ramos-Horta a Portugal, esta semana.
Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu José Ramos-Horta no Palácio de Belém, em Lisboa, no início da sua visita de Estado a Portugal, e os dois falaram sobre a recente vaga de imigração de timorenses para Portugal.
Em conferência de imprensa conjunta com Ramos-Horta, o Presidente português afirmou que as autoridades de Portugal e de Timor-Leste estão a trabalhar em conjunto para criar condições de permanência para os timorenses recém-chegados e combater ilegalidades.
As autoridades dos dois países estão a atuar para detetar "estruturas ilícitas ou ilegais de exploração, de tráfico, de mão-de-obra", referiu Marcelo Rebelo de Sousa.
Em Portugal "entraram no Ministério Público vários processos" e tem havido "intervenções de inspeção laboral, nas empresas, isto é, nos contratadores finais, para apurar da precariedade ou não do trabalho, das condições de pagamento", acrescentou.
"Estamos de acordo os dois quanto a que é intolerável aquilo que se passa e se venha a passar à margem da lei. Portanto, deve ser fiscalizado, deve ser objeto de intervenção não apenas administrativa mas do foro judicial", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
Segundo o chefe de Estado português, "estão localizados a esta data 873 timorenses" em Portugal, "dos quais a maioria esmagadora em condições -- mais de 500 -- de habitabilidade ou de acolhimento ou de albergue ou de apoio de instituições muito variadas", Estado, autarquias locais e instituições de solidariedade social.
Na mesma conferência de imprensa, Ramos-Horta garantiu que o país está determinado em "identificar e punir" os "grupos sem escrúpulos" que enganam os jovens timorenses com promessas de trabalho em países como Portugal e outros.
"A situação resulta de atos ilegais de grupos, de elementos sem escrúpulos" em Timor-Leste, que "fazem promessas falsas aos jovens", afirmou
"É um fenómeno muito comum em todo o mundo, em particular nos países em vias de desenvolvimento, arrasta-se há décadas", concluiu.
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