Para Marques Mendes, que falou esta tarde na apresentação do livro "O Governador", o Ministério Público deve voltar a analisar a venda do Banif tendo em conta revelações feitas no livro sobre os dois mandatos de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal.
“Por muito menos já vi o Ministério Público abrir inquéritos e constituir arguidos”, disse Marques Mendes, culpando ainda o Governo por ter dito a Bruxelas que o Banif estava em resolução quando ainda o Banco de Portugal não tinha tomado essa decisão.
"Já na altura", afirmou, "havia pessoas e entidades e Bruxelas que em articulação com o Governo diziam quem devia ser o comprador do Banif".
Marques Mendes diz mesmo que "os principais intervenientes nesta história devem explicações às autoridades e ao país".
"Foi favorecimento ou foi negligência?", questionou, considerando que há três intervenientes da história -- "dois portugueses e uma cidadã estrangeira" -- que "devem uma explicação ao país", sem os nomear.
Já sobre o caso mais mediático, e que já mereceu o anúncio do primeiro-ministro de que irá processar Carlos Costa, o antigo presidente do PSD defendeu que "falta a explicação política" de António Costa.
"O primeiro-ministro considerou inoportuna ou inconveniente a saída de Isabel dos Santos do BIC, sim ou não? Fez algum contacto com o governador, sim ou não?", afirmou, considerando que mais importante que "conhecer a frase" é saber "se houve ou não intervenção junto do Banco de Portugal".
Para Marques Mendes, uma eventual intromissão do poder político numa questão desta natureza "é tão grave e tão ilegítima quanto a intrusão do poder político numa investigação judicial".
O primeiro-ministro, António Costa, já afirmou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra, depois de, no livro, o antecessor de Mário Centeno ter relatado que foi pressionado pelo chefe do Governo para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
"O Governador" é o um testemunho de Carlos Costa, líder do Banco de Portugal entre 2010 e 2020, sobre os pontos mais marcantes dos seus dois mandatos. Com prefácio de Christine Lagarde, o presidente do Banco Central Europeu, e baseado em mais de 30 horas de conversa com Carlos Costa, Luís Rosa, jornalista do Observador revela factos até agora desconhecidos sobre a intervenção da 'troika', o caso Banco Espírito Santo e a resolução do BANIF, entre outros temas.
O livro dá ainda a conhecer as relações tensas com o antigo primeiro-ministro José Sócrates, com o atual, António Costa, e antigo ministro das Finanças Mário Centeno bem como as guerras com o ex-banqueiro Ricardo Salgado e a família Espírito Santo.
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