Com uma faixa à frente onde se lia "contra a violência machista", as muitas centenas de pessoas gritaram palavras de ordem como "mexe com uma, mexe com todas", "nem uma a menos, vivas nos queremos", ou "a minha luta e todo o dia, somos mulheres e não mercadoria".
A Marcha pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que assinala em Lisboa o dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, junta-se a outros eventos semelhantes que decorrem hoje em cidades como Porto, Braga, Coimbra, Viseu, Viana do Castelo e Vila Real.
Em Lisboa, no fim da marcha, foram lidos os nomes das 22 mulheres mortas este ano em contexto de violência doméstica, um número que foi salientado como não se podendo repetir.
Foi também lembrada a luta de outras mulheres noutras regiões o mundo, de acordo com um manifesto lido no Rossio, centro de Lisboa.
Daniel Cotrim, responsável pela área da violência doméstica e de género na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, salientou a importância de se assinalar a data, porque os cidadãos e organizações devem ter "uma palavra a dizer relativamente a estes fenómenos" e porque o seu combate e prevenção depende de cada um.
É preciso, disse Daniel Cotrim, fazer mais, nomeadamente do ponto de vista legislativo, onde é preciso "afinar algumas coisas na lei".
"E é preciso que a justiça, emaranhada em preconceitos, em mitos, em crenças e estereótipos da sociedade machista, se dispa deles", acrescentou.
Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, fez também referência ao número de mulheres vítimas de violência doméstica, que é ainda "mais assustador" quando se percebe que muitas delas já tinham feito queixas, já tinham sido vítimas de ameaças e tentativas de homicídio.
"A violência contra as mulheres decorre do machismo, da sociedade patriarcal, do preconceito contra as mulheres na sociedade", disse a deputada, referindo a existência também de um problema de "políticas públicas" e de "uma estrutura judicial que ainda não está preparada para enfrentar este problema com capacidade que devia ter".
A deputada exemplificou com as secções especializadas contra a violência doméstica que "funcionam com metade dos funcionários que deviam ter e que ainda não foram alargadas a todo o território", porque "o Governo não tem investido nelas". E lembrou duas alterações ao orçamento do Estado nesta matéria que o Bloco apresentou e que foram chumbadas.
Outra deputada também presente na marcha, Inês Sousa Real, do PAN, além de lembrar as "cifras negras" e o "longo caminho a percorrer", falou também da necessidade da formação de magistrados, da promoção de uma sociedade mais justa do ponto de vista da igualdade laboral, e do que chamou de legitimidade da comunidade internacional para com crimes relacionados com as mulheres, dando a ideia de que estas podem "ficar para trás".
"Precisamos de mais marchas como esta e de medidas efetivas. E precisamos de uma sociedade que respeite e empodere as mulheres e que as trate de forma igual", disse.
Com a participação de mais de duas dezenas de organizações, a marcha em Lisboa, que também teve música e muitas palavras de ordem, terminou com uma intervenção de uma ativista iraniana, em homenagem à luta das mulheres no Irão, depois de lido um manifesto, "Mulheres, Vida, Liberdade", subscrito por 34 organizações feministas e mais de uma centena de pessoas a título individual.
Coube à associação UMAR -- União de Mulheres Alternativa e Resposta a leitura dos nomes das 22 vítimas mortais.
Ana Leonor Marciano, jurista da UMAR, salientou à Lusa que é preciso mudar mentalidades, acrescentando depois, sobre mudanças que são necessárias: "Sinto que muitas vezes o tempo da justiça não é o tempo das pessoas. As vítimas necessitam de respostas rápidas para os seus problemas e muitas vezes não temos ainda essa rapidez de mecanismos. Estamos melhor mas ainda não é de todo o desejável".
[Notícia atualizada às 21h58]
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