A via chegou a estar intransitável por causa das cheias, resultado da chuva forte dos dias 07 e 13 de dezembro e do transbordo da ribeira que vem de Odivelas, mas nem todos os negócios instalados junto à EN8 conseguiram "retomar a marcha".
No caso de Manuel Silva, isso será mesmo impossível com os automóveis que vende. O 'stand' e a oficina que tem na freguesia de Santo António dos Cavaleiros-Frielas foram inundados, o que provocou prejuízos a rondar os 500 mil euros.
"Não sei se consigo abrir com o dinheiro que tenho", refere o empresário à Lusa, garantindo precisar de ajuda para manter o negócio com 12 anos e o emprego dos quatro funcionários.
A Câmara de Loures, no distrito de Lisboa, pediu às famílias e comerciantes locais que enviassem até hoje a informação das perdas causadas pelas inundações, algo que Manuel Silva fez, pelo que aguarda os apoios.
O empresário do ramo automóvel espera reabrir, no melhor dos cenários, no final de janeiro, mostrando descrença nas seguradoras, pois teve dificuldade em ter um seguro numa zona de risco que as companhias preferem não cobrir, referiu Manuel Silva.
Mais ao lado, na Flamenga, o casal Hugo e Tânia Rodrigues tinha o "grande investimento" da sua vida, mas, por causa das cheias, perdeu mais de 360 mil euros no seu negócio de eventos, a que se juntam as perdas no rés-do-chão da casa situada ao lado dos armazéns.
"No pós-Covid, houve uma necessidade de as pessoas se reunirem, fazerem as suas festas", afirma Tânia Rodrigues à Lusa, uma visão que os levou a investir mais de 260 mil euros num setor em crescimento.
Com desilusão, Tânia diz que "dezembro está completamente estragado", mês que seria "talvez dos melhores" com os eventos ligados ao Natal, e o casal está agora dependente dos apoios que lhes cheguem.
"Se não tivermos apoio nenhum, é para fechar ou para voltar daqui a 10 anos", sublinha Hugo Rodrigues, apontando ainda as perdas superiores a 2.500 euros em livros de Direito, área na qual Tânia se está a formar na Universidade de Lisboa.
Em contraste com estas situações, o proprietário de uma pastelaria na Flamenga conseguiu reabrir ao fim de um dia.
Manuel Ferreirinha conta à Lusa que a água atingiu uma altura de 60 centímetros no estabelecimento, que funciona agora com "máquinas emprestadas", enquanto outras estão em reparação.
Apesar da reabertura, pondera fechar para obras no próximo ano por causa da madeira de alguns equipamentos da pastelaria atingida pela água: "As portas da casa de banho nem fecham", sublinha o proprietário.
Os empresários ouvidos pela Lusa falaram hoje com o presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão (PS), e com o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, elogiando o acompanhamento das equipas municipais.
Durante esta visita ao comércio local afetado pelas cheias, Ricardo Leão anunciou aos jornalistas vales de compras para as famílias que perderam mobiliário e apoios até 50 mil euros por empresa afetada, de acordo com os prejuízos apresentados e através do pagamento de 30% dessas perdas.
"A única limitação que estamos a fazer nesta fase é apoiar todas as empresas que tenham um volume de negócio não superior a 500 mil euros", indicou o presidente do município.
Estas ajudas, financiadas em um milhão de euros pelo Fundo de Emergência Municipal, servem como "balão de oxigénio" às famílias e às empresas, enquanto as ajudas "imprescindíveis" do Governo não chegam.
Nuno Fazenda prometeu aos comerciantes apoios "céleres e não burocráticos", isto após o Governo ter anunciado que vai apoiar os municípios afetados pelo mau tempo deste mês, devendo as autarquias fazer o levantamento dos prejuízos até, no máximo, 15 de janeiro.
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