Azeredo Lopes considerou, esta segunda-feira, que é "perturbador" que as forças militares brasileiras nada tenham feito para evitar a invasão das sedes dos três poderes do Estado - o Congresso, o Supremo Tribunal e o Palácio do Planalto - que aconteceu este domingo, por parte dos apoiantes do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
"É particularmente perturbador que as forças militares, desde logo, assistam impávidas aquilo que parece um cerco das suas próprias instalações com um instrumento de coação dia-a-dia mais evidente, sobretudo traduzido em pedidos formais, em cartazes, em bandeirolas, em declarações transmitidas para quem quisesse ouvir, de que era necessário que as forças militares interviessem para depor aquele que era o presidente que tinha sido eleito e de quem estas pessoas manifestamente não gostavam", disse o antigo ministro da Defesa de Portugal, em entrevista à CNN Portugal.
Para o ex-governante, era "demasiado óbvio" que esta invasão ia acontecer e "claro" que podia ter sido evitada.
"Durante meses milhares de pessoas conseguirem financiar um acampamento em frente ao quartel general do Exército, em Brasília. Só isso começa logo a indiciar algo de muito preocupante, o que significa que há alguém (ou há quem) financie este tipo de atividades deixando na linha da frente, indivíduos, que não digo que são os menos culpados mas, que são os instrumentos de alguém que está a mexer os cordelinhos por trás e que não gosta dos resultados democráticos de uma eleição", atirou, recordando "outros factos perturbadores", como a "força manifestamente insuficiente e sobretudo grosseiramente pouco empenhada em garantir que aquelas pessoas não pudessem alcançar, no fundo, a sede dos três poderes em Brasília".
"Infelizmente vimos fotografias de agentes policiais a tirarem fotografias, a filmarem, a sorrirem, como se estivessem a assistir a uma tourada quando deviam estar a impedir que fizessem aquilo que pudemos ver", lembrou.
O único aspeto positivo, em relação ao ataque ao Capitólio, salientou ainda Azeredo Lopes, é que estes "bandidolas, independentemente de andarem para ali aos pulos, de quererem achincalhar os poderes formais do Estado, estavam muito menos predispostas para a violência física". Algo que demonstra, contudo, segundo o antigo ministro, que "uma manifestação de autoridade consolidada mínima teria feito dispersar as pessoas".
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