O cônsul honorário da Rússia em Portugal, Bruno Valverde Cota, é dono de uma empresa que tem como negócio facilitar a aquisição de vistos gold para investir em Portugal, avança esta terça-feira a CNN Portugal.
A empresa em causa chama-se Optimistic Plus, Lda., e foi fundada em 2012 pelo cônsul honorário, nomeado para o cargo em 2020 pela Embaixada da Rússia.
À televisão, Valverde Cota admite que a posse de uma empresa que facilite vistos gold, enquanto detém um cargo diplomático, "eventualmente pode traduzir um conflito de interesses". No entanto, o cônsul honorário vinca que não existem trocas de clientes ou de influência direta entre cargos, garantindo que "a empresa dispõe essa informação no âmbito da oferta geral que consta no site".
Bruno Valverde Cota garantiu ainda à CNN que a Optimistic Plus não apoia os vistos gold, pois estes "não se enquadram no âmbito da estratégia comercial", e disse que, por a empresa considerar que "eventualmente poderia haver conflito de interesses", decidiu "não avançar com o apoio a vistos gold". O diplomata honorário deixou claro também que "nunca ajudou a tratar de vistos gold, nem tem intenções de o fazer no futuro".
No entanto, o site da Optimistic Plus não parece concordar com as próprias declarações do cônsul. É que a Optimistic Plus tem um menu denominado 'Investimento e Vistos Gold', no qual é dito que Portugal é um bom país para investir em imobiliário "por causa da posição geoestratégica que liga os três continentes", "por causa do clima", a "segurança" e a "facilidade de negócios".
© Optimistic Plus
Em 'Opções de Investimento', a empresa sugere que um investimento de 280 mil euros "está disponível apenas para propriedades em áreas de baixa densidade populacional", enquanto que o valor mais elevado, 500 mil euros, permite "todos os tipos de investimentos imobiliários disponíveis".
E, clicando numa área específica sobre vistos gold, a Optimistic Plus explica, passo a passo, como é que alguém que pretenda um visto gold o pode obter.
No mesmo site, a empresa define que o seu trabalho foca-se em apoiar empresas "no desenvolvimento do seu processo de internacionalização e fornece orientação para a entrada em novos mercados". Numa mensagem do CEO, publicada no mesmo site, Bruno Valverde Cota diz que a empresa distingue-se "por apoiar empresas que estão determinadas a crescer internacionalmente e, ao mesmo tempo, empresas estrangeiras que querem entrar nos mercados dos países de língua oficial portuguesa".
A Embaixada da Rússia salientou que não tem "conhecimento de que o cônsul honorário alegadamente trate de vistos gold" e acrescentou que Bruno Valverde Cota é "alguém com um forte sentido ético e muito sensível a este tipo de questões".
Na rede social LinkedIn, Bruno Valverde Cota tem como cargo principal o de CEO da Optimistic Plus, empresa da qual faz parte há 16 anos. O primeiro cargo enumerado no seu perfil, na empresa, data de janeiro de 2017, classificado como 'Managing Partner' pela Optimistic Plus na Federação russa.
Um dos cargos mencionados é o de presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal e Comunidades Estados Independentes (CCIPCEI), uma entidade apoiada institucionalmente pela Rússia e que, segundo a televisão portuguesa, colabora com outra empresa cujo propósito é apoiar a obtenção de vistos gold.
No seu currículo consta uma série de participações em conselhos diplomáticos e grupos que promovem relações económicas, a grande maioria envolvendo entidades russas.
Neste momento, no âmbito das sanções da União Europeia devido à invasão russa na Ucrânia, a obtenção de vistos gold por parte de cidadãos de nacionalidade russa está suspensa. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) recebeu dez pedidos de cidadãos russos para uma Autorização de Residência e Investimento, mas recusou todas.
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